O mundo de fantasia edulcorado pela propaganda petista começou a entrar em contato com o Brasil real assim que o nome de Dilma Rousseff foi anunciado aos torcedores que compareceram ao Estádio Mané Garrincha, no último sábado (15), para acompanhar o jogo de abertura da Copa das Confederações, e saudado com uma estrepitosa vaia.
Ao contrário do que os entusiastas do PT e da presidente poderiam imaginar, as vaias em Brasília foram sucedidas por protestos e manifestações que ganharam as ruas das principais cidades brasileiras.
A indignação generalizada, tão contundente quanto difusa à primeira vista, tem entre suas múltiplas causas justamente os gastos do governo federal para a realização da Copa do Mundo no Brasil.
No mesmo sábado em que a presença de Dilma foi repudiada pelos torcedores no Mané Garrincha, milhares de manifestantes deixaram claro, do lado de fora do estádio mais caro do Mundial de 2014, que não aprovavam o dinheiro público torrado para o evento do ano que vem.
Embora o governo do PT tenha prometido inicialmente que a construção das novas arenas seria viabilizada apenas com investimentos privados, os gastos desmedidos devem ultrapassar a exorbitância de R$ 28 bilhões, segundo estimativa do próprio Ministério do Esporte.
Somente nos estádios construídos ou reformados para a competição, a conta chega a R$ 7 bilhões, quantia sete vezes maior do que o valor estipulado em 2007 (R$ 1,1 bilhão), quando o Brasil ganhou o direito de receber a Copa. Desse montante, 97% é dinheiro público.
Além do repúdio aos gastos da Copa, a população brasileira tem ido às ruas para manifestar seu descontentamento com a inflação, atitude simbolizada pelos jovens do Movimento Passe Livre que se revoltaram com o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo e espalharam essa causa, como fagulha, por todo o país.
O que começou como uma reivindicação localizada rapidamente ganhou dimensão nacional, com mobilizações organizadas pelas redes sociais e que abriram espaço para que os brasileiros empunhassem outras bandeiras como o combate à corrupção e à violência, mais investimentos nas áreas de saúde e educação e reforma política.
Na segunda-feira (17), mais de 250 mil pessoas participaram daquela que já é a maior manifestação popular desde o movimento pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Por mais que a propaganda oficial, tão afeita ao ludíbrio da sociedade, tente minimizar o impacto da onda de protestos que tomou conta do Brasil, é evidente que se trata de mais um sinal do esgotamento de um ciclo de poder cujo legado ao país é institucionalmente precário e moralmente indecoroso.
A permanente afronta ao Legislativo, ao Judiciário e à imprensa independente, a cooptação de parlamentares escancarada pelo mensalão, a fisiologia na ocupação de cargos públicos, a corrupção simbolizada por dinheiro na cueca, o uso desenfreado da máquina com fins meramente eleitorais e um completo descompromisso com a liturgia republicana são algumas das marcas deixadas nesses dez anos de governos do PT.
É contra tudo isso que o povo vai às ruas, formando um coro uníssono de milhões de vozes, com diversas causas pelas quais lutar, mas um sentimento comum de indignação que estava represado. A vaia, enfim, tomou conta do país.
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