O ESTADÃO - 26/05
Tensão sempre houve no convívio entre o governo e seu principal parceiro, o PMDB. Mas nunca o clima de divergência foi tão explícito como agora, quando se acumulam manifestações exteriores de insatisfação.
Da maratona dos três dias que quase levou o Planalto a uma derrota na MP dos Portos e pôs em xeque a utilidade de base parlamentar tão ampla quanto heterogênea, ao aval de mais da metade da bancada do partido na Câmara à CPI da Petrobras, passando por um jantar em que governadores e parlamentares expuseram suas queixas de maneira contundente, o passivo de descontentamentos só tem feito crescer.
Aonde vai parar isso? O que quer o PMDB? Qual a origem da discórdia? Como se resolve o problema? São algumas entre as várias indagações para as quais há diferentes explicações que partem da mesma premissa: a presidente Dilma Rousseff não dá ao partido o peso esperado quando do acerto que levou Michel Temer à Vice-Presidência.
No início, o PMDB imaginou que teria interlocução permanente, poder de fato, influência nas decisões por intermédio dos ministérios e tratamento igualitário em se tratando de questões eleitorais. Passados mais de dois anos e vendo se aproximar a eleição de 2014, o partido teme pela sobrevivência e já se questiona se a vice foi de fato um bom negócio.
Na eleição de 2012, o PMDB viu cair de forma expressiva o número de prefeitos e receia que o mesmo se repita nas próximas eleições para governadores, deputados e senadores. São numerosas as reclamações: Dilma privilegia o PT quando visita os estados, recusa-se a dar autonomia aos ministros que, além de não terem o controle efetivo de suas pastas, não são pessoas com influência nas bancadas da Câmara e do Senado. A presidente exige lealdade sem contrapartida em termos de compartilhamento de poder e, com isso, deixa o PMDB desprovido de instrumentos para atender às demandas da base no Congresso e para se mostrar poderoso junto ao eleitorado e a possíveis aliados regionais.
Nesse aspecto, o governo parece não compreender que o líder na Câmara, Eduardo Cunha, não confronta sozinho. Só o faz porque tem respaldo e, na verdade, vocaliza as insatisfações gerais. Para piorar, o clima interno no partido é o pior possível. Quebrou-se a unidade conseguida a partir do segundo governo de Luiz Inácio da Silva. Michel Temer perde força porque não se comporta como o PMDB gostaria: fazendo valer suas posições diante da presidente. Promete levar a ela os problemas, mas nunca apresenta ao partido soluções concretas.
O resultado é a hostilidade crescente na direção do Planalto, a deterioração das relações internas e a falta de rumo que já se expressa na recusa de várias seções regionais em se aliar ao PT na próxima eleição.
Solução? Haveria, se a presidente estivesse disposta a reconstruir as pontes, no mínimo substituindo as ameaças e as demonstrações de irritabilidade pelo diálogo. Caso contrário, aonde isso vai parar? Difícil dizer. Mas o cenário aponta provavelmente para uma daquelas convenções fratricidas de antigamente em que o PMDB não consegue chegar a um consenso e prefere não apoiar ninguém, ficando livre para diversificar o embarque nas canoas que bem entender.
Hora de calar
A pressão do governador Sérgio Cabral Filho para que o PT não tenha candidato ao governo do Rio de Janeiro não mudou em nada a disposição da direção nacional do partido de sustentar o nome do senador Lindberg Farias. Nos últimos dias ele recebeu garantia de que a candidatura será mantida, mas ouviu um apelo para não responder, não provocar e, sobretudo, não alimentar polêmica com Cabral. A palavra de ordem é não dar pretexto e deixar o PMDB do Rio brigar sozinho.
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