O Estado de S.Paulo - 26/05
Queixas sobre concorrência desleal sempre permearam relações comerciais entre países. Até recentemente, estiveram mais relacionadas a subsídios, favores tributários concedidos pelos Tesouros nacionais a indústrias ou setores, cujo resultado final é jogar o concorrente (de outros países) para fora do mercado.
O Brasil, por exemplo, há anos vem acusando Estados Unidos e União Europeia de despejar centenas de bilhões de dólares do contribuinte na agricultura, providência que barateia de tal forma a produção de grãos, açúcar, carnes ou laticínios, que impede ou atrapalha o desenvolvimento desses setores nos países mais pobres, que não se podem dar a esses luxos.
Protestos sobre outros tipos de jogo desleal têm-se avolumado. Um exemplo é a produção sem cuidados ambientais, como ocorre na China. É, ainda, a produção sob regimes cambiais excessivamente desvalorizados, que anula proteções proporcionadas pelas taxas alfandegárias erguidas em outros países.
Essa é uma reclamação cada vez mais frequente do governo brasileiro contra as políticas monetárias expansionistas dos grandes bancos centrais, que despejam moeda estrangeira nos mercados e valorizam moedas nacionais dos outros países, o que resulta no encarecimento das mercadorias exportáveis.
Mais curiosamente, têm crescido no mercado internacional as queixas contra políticas destinadas a reduzir salários, tomadas para derrubar os custos de produção e, nessas condições, prejudicar as exportações de outros países.
Há alguns anos, era a reclamação que se fazia ao jogo da China. O principal assessor da Presidência da República do Brasil, o gaúcho Marco Aurélio Garcia, por exemplo, desde os tempos do governo Lula vinha condenando os baixos salários praticados na Ásia, principalmente na China, como um disfarce do trabalho escravo, o que tirava do mercado produtos de outros países industrializados.
Hoje esse tipo de queixa vai permeando as relações na área do euro. Nos últimos 15 anos, a Alemanha praticou uma política de relativa redução dos salários, destinada a fomentar a competitividade da indústria. Os sindicatos alemães entenderam a importância da ação no longo prazo para ampliar o emprego no país, na medida em que a diminuição dos preços provocaria o aumento das exportações dentro do bloco.
Agora, crescem as pressões para que a Alemanha faça o movimento contrário: provocar a elevação dos salários para que o produto fique mais caro e abra espaço para exportações dos vizinhos hoje em piores condições. Ou seja, salários relativamente mais baixos, que sempre foram considerados vantagem comparativa e, nessas condições, parte do jogo leal, começam a ser denunciados pela concorrência como assimetria inaceitável.
Como 57% das exportações da Alemanha destinam-se a países da União Europeia, a própria incapacidade de importar a que a vizinhança está sendo submetida também é apontada como causa do baixo crescimento da produção alemã. Nessas condições, uma elevação dos salários na Alemanha como contribuição para recuperação de toda a área do euro não pode ser descartada.
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