GAZETA DO POVO - PR - 26/05
Devagar, devagarinho a economia brasileira está escorregando para zonas muito perigosas de onde parecia ter se livrado nos últimos vinte anos: a inflação, a dívida pública enlouquecida, a crise cambial e a falta de competitividade internacional.
Depois de décadas de frustração e outra década de esforço hercúleo, livramo-nos da hiperinflação e começamos a ter uma vida financeira mais ou menos normal sem ter de conviver com preços que subiam 10, 20, 40 e até 80% ao mês e sem viver a permanente angústia de ver o dinheiro derreter sob seus olhos. Devagar, devagarinho o Banco Central agora se dá por satisfeito se conseguir, mal e mal, ficar dentro da expectativa máxima para a inflação do ano e não mais no centro das metas estabelecidas. Pior: só consegue fazer essa ginástica à custa de mágicas tributárias, desonerando esse ou aquele setor temporariamente para evitar que o aumento de seus preços empurre a inflação ainda mais para cima.
A dívida pública, enlouquecida e fora de controle antes do Plano Real, e que cresceu exponencialmente depois dele por causa da política cambial equivocada, continua a aumentar apesar dos juros estarem no patamar mais baixo de todos os tempos. Por quê? Por várias razões, especialmente a necessidade de o governo federal ampliar seus empréstimos no mercado financeiro para compensar a perda de receitas tributárias que suas benesses fiscais temporárias em setores de maior apelo popular estão criando. É claro que o governo poderia reduzir os gastos públicos que crescem desordenadamente (que governança é possível com 40 ministérios e dezenas de milhares de funcionários, aspones e asmenes recrutados para povoá-los?), mas isso ele não quer.
O câmbio é outra tempestade em formação. Depois de muitos anos de brilhantes superávits na balança comercial, em 2013, o comércio externo brasileiro já acumula perdas de mais de 6 bilhões de dólares até abril. O Balanço de Transações Correntes (que soma aos resultados comerciais os gastos com serviços, o turismo no exterior e as remessas de juros), que se manteve positivo entre 2003 e 2008 virou e os déficits voltaram com toda força desde então. Em 2013, já é o dobro do ano passado e a previsão para o ano todo é de quase 80 bilhões de dólares. Ou seja, voltamos a ficar reféns do mercado financeiro internacional; a única diferença é que agora temos reservas cambiais “confortáveis” mas se nosso desempenho comercial e nos serviços internacionais continuar a se deteriorar, esse saldo se evaporará em alguns meses.
Enquanto isso, os estudos setoriais demonstram que nossa indústria está perdendo aceleradamente competitividade nos mercados mundiais. O custo Brasil está se agravando com o chamado apagão logístico que não para de piorar, enquanto no resto do mundo os ganhos de produtividade são enormes.
Cada vez mais o ministro Mantega – com sua incrível capacidade de ler a realidade com óculos do Doutor Pangloss – se assemelha ao sujeito que se jogou do alto de um prédio e, ao passar pelo 5º andar em queda livre, gritou para os expectadores apavorados: “Até aqui, tudo bem!”.
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