O GLOBO - 17/04
Todo ato de terrorismo é uma ignomínia porque atinge inocentes. O ataque a um evento esportivo de massa é duplamente infame. Afronta o ideal de cultura física e bem-estar que o esporte proporciona. O de Boston visou a pessoas de várias procedências e diferentes culturas, símbolo de uma agressão à Humanidade. O terror vem sendo utilizado há séculos. Mas, de forma intensa e extensa, é marca do nosso tempo. A sociedade moderna, com suas extraordinárias facilidades de transporte e comunicação, é vulnerável às maquinações de mentes doentias, por mais poderosos e sofisticados que sejam os sistemas de vigilância e defesa montados por países como os EUA.
Um terrorista nuclear de Estado — Kim Jong-un, da Coreia do Norte — ameaçara disparar mísseis, e havia motivos para supor que poderia ser segunda-feira. EUA, Coreia do Sul, Japão e outras nações estavam em alerta. Mas as explosões acabaram ocorrendo na rua Boylston, a 30 e a 160 metros da linha de chegada da Maratona de Boston, em meio ao público que se aglomerava para ver o final da prova, a mais tradicional corrida de longa distância do mundo, realizada desde 1897. Na cidade onde estão templos do saber e da tecnologia, como a Universidade de Harvard e o MIT, os artefatos utilizados eram rudimentares, lembrando panelas de pressão de conteúdo letal — pregos e estilhaços capazes de arrancar membros dos inocentes atingidos, entre eles um menino de 8 anos, um dos mortos.
O terrorismo como forma de luta de organizações em nome de povos em busca de território nacional, de regiões em busca de independência e de grupos separatistas se intensificou na segunda metade do Século XX. O IRA matou muitos inocentes pela autodeterminação da Irlanda do Norte. O ETA fez o mesmo em prol da independência do País Basco espanhol. O Fatah, de Yasser Arafat, transformou o sequestro de grandes aviões comerciais em propaganda da luta palestina contra Israel. Grupos com interpretações exóticas do Alcorão ampliaram o terror para uma guerra contra o Ocidente em nome da religião. O ápice foram os atentados de 11 de Setembro de 2001 contra o World Trade Center, em Nova York, que mataram quase 3 mil pessoas. Obra da al-Qaeda, de Osama bin Laden, morto pelos EUA em 2011, no Paquistão.
O terrorismo mata inocentes e põe democracias em risco. Um país atacado, como os EUA em 2001 e agora em Boston, tem o direito de se defender. Mas o traumatismo se reflete em leis de exceção que, por sua vez, põem em risco direitos civis. É tênue a linha que separa a defesa do Estado das garantias individuais. O terror faz todos saírem perdendo.
O atentado de Boston reforça a necessidade de o terror ganhar espaço na agenda das autoridades do Brasil, diante da pauta de grandes eventos no país. Em junho, já haverá a Copa das Confederações, e o Rio, em julho, recepciona a Jornada Mundial da Juventude, com a presença do Papa.
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