FOLHA DE SP - 17/04
Há tempos, no Brasil, na média das partidas, existe mais show de raça do que show de futebol
Quem assistiu, na íntegra, à vitória sobre o Libertad ficou impressionado com o ritmo alucinante do Palmeiras e com a relação apaixonada entre os 37 mil torcedores e os jogadores.
Por minha psicologia de botequim, houve uma catarse, uma explosão de sentimentos contidos, adormecidos no fundo da alma. Assim como ocorre nas tragédias, quando as pessoas ficam extremamente comovidas e solidárias com as vítimas, atletas e torcedores do Palmeiras querem levantar o time, abraçá-lo intensamente e colocá-lo em seu lugar. Isso já ocorreu com vários outros times, que passaram pela mesma situação.
O show de raça, como disse um repórter, é uma situação de emergência, adequada para o modesto time do Palmeiras. Pode funcionar em um jogo, dois e até durante todo um torneio curto, como na Copa do Brasil, na Libertadores e na Copa do Mundo. Não dá é para fazer disso uma rotina, pois, além de não ser possível tecnicamente, foge à normalidade e torna o futebol mais uma guerra do que um jogo de técnica e de talento.
Há anos, ocorre algo parecido no futebol brasileiro, sem a intensidade do que acontece hoje com o Palmeiras. Existe uma grande valorização da garra, do confronto físico, em detrimento do jogo bem jogado. Sempre que um time perde, dizem que faltou raça. Adoram expressões como "time guerreiro", "sangue na veia", "sangue nos olhos". Essa excessiva agressividade, próxima da violência, é um dos motivos da queda do futebol brasileiro. Há mais show de raça do que de futebol.
Jogar com vontade é tão essencial que nem deveria ser discutido. Nelson Rodrigues disse que quem ganha é a alma. Parafraseando Fernando Pessoa, penso que quem ganha é o talento, desde que a alma não seja pequena.
Hoje é dia de Libertadores. Espero que sejam jogos vibrantes e de boa qualidade. O São Paulo bobeou contra o Arsenal e, agora, está em uma situação difícil. Enfrenta o Atlético-MG, o melhor time da competição. Não bobeou porque faltou raça. Bobeou porque não tem mais Lucas, os laterais e os zagueiros são apenas razoáveis, Luis Fabiano vive suspenso, e o técnico não define se escala Jadson e Ganso ou se repete o esquema anterior. Hoje, não terá Jadson e Luis Fabiano, os melhores do time.
Grêmio e Fluminense correm riscos. O Grêmio, por tantos bons jogadores contratados, deveria estar melhor. O Fluminense não tem a mesma eficiência do ano passado.
O Corinthians, já classificado, descansa. Como muitos veteranos retornaram ao Brasil para ser destaques em suas equipes, esperava- -se que o jovem Pato, uma celebridade mundial, se tornasse o astro do time. O tempo passa, e Pato continua na reserva. Quando entra, joga bem, porém no nível dos outros. A expectativa era muito maior.
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