O ESTADÃO - 17/04
A disparada do preço do tomate, que chegou a atingir, na média do mês de março, R$ 6,50 o quilo na cidade de São Paulo, ganhou grande destaque na imprensa. Não repercutiu menos a contribuição dos preços dos alimentos para os índices de inflação, sobretudo agora que seu controle se transformou num divisor de águas entre desenvolvimentistas e monetaristas. Nos últimos 12 meses (março de 2013 sobre abril de 2012) o IPCA/IBGE acumulado atingiu 7,2%, ao passo que o grupo dos alimentos teve aumento de 14,5%. Voltando um ano atrás (março de 2012 ante abril de 2011), enquanto o IPCA acumulado esteve ao redor de 5,24%, o grupo dos alimentos subiu 6,29%.
O que se vê, portanto, é que ao longo de boa parte de 2012 e 2013 os preços dos alimentos vêm crescendo a taxas mais elevadas que os dos demais setores que compõem o IPCA. No ano anterior esse fenômeno não havia ocorrido. O que aconteceu para que a subida dos preços dos alimentos seguisse forte nos últimos 12 meses? A mais óbvia e propalada explicação se refere às quebras de safra: no ano passado nos Estados Unidos, elevando os preços internacionais de grãos e, como consequência, da proteína animal, e neste ano no Brasil, nas frutas e hortaliças.
A discussão sobre inflação dos alimentos, embora válida, está mascarando uma importante questão na agricultura brasileira que vem, silenciosamente, ganhando relevância. Silenciosamente porque se fala muito pouco dela fora do meio agropecuário e porque os mercados doméstico e internacional têm conseguido absorvê-la na forma de maiores preços. Trata-se do aumento de custos de produção.
O aumento dos custos não é um "privilégio" do setor agropecuário. A economia brasileira em geral, principalmente o setor industrial, vive uma espécie de inflação de custos. A diferença do setor agrícola é que seu ganho de produtividade tem neutralizado parcialmente esse aumento de custos, em especial com respeito à mão de obra. O setor industrial, na contramão do agrícola, tem reduzido investimentos e produção como resposta ao aumento dos custos.
Além disso, como o Brasil ainda é, em muitos setores do agro, o produtor de menor custo marginal, o custo brasileiro acaba definindo um piso para os preços internacionais. É o que se vê em milho, soja e açúcar. Outros setores, com destaque para carnes (de frango, suína e bovina), já dão sinais de que a competitividade brasileira começa a perder vigor por causa do aumento dos custos. Ou seja, se os custos continuarem a subir no ritmo observado nos anos recentes, todo o setor agrícola pode perder competitividade.
Dois dados comprovam que o aumento dos custos agropecuários deve ser analisado com atenção redobrada. O primeiro é que o valor dos salários rurais vem consistentemente crescendo mais rapidamente do que o salário mínimo. Enquanto nos últimos cinco anos o salário mínimo cresceu em termos nominais 67%, os salários rurais (base: Estado de São Paulo) de mensalistas e tratoristas subiram, respectivamente, 70% e 73%. Vale lembrar que o IGP-DI nesse mesmo período cresceu 35%. Ou seja, o custo da mão de obra para agricultura subiu o dobro da inflação nesse período. Como já dito, a produtividade do trabalhador na agricultura vem crescendo, mas não o suficiente para compensar esse forte aumento nos salários.
Outro indicador muito relevante é o valor do arrendamento. No mesmo período (2008-2012) o arrendamento para cana-de-açúcar e soja subiu, também no Estado de São Paulo, 90% e 78%, respectivamente. Mais uma vez, aumentos muito expressivos quando comparados com o IGP. Claro que o aumento do valor do arredamento reflete o próprio sucesso do setor, que ao crescer faz a demanda por terra subir e, consequentemente, eleva seu preço em produto e em reais. No entanto, um importante fator de competitividade da agricultura brasileira é ter o valor do ativo terra em patamares inferiores aos dos competidores do Brasil, como EUA e Europa. O que merece atenção é que essa diferença vem diminuindo.
No caso dos grãos, faz dois anos que os custos vêm subindo continuamente. Mão de obra e valor do arrendamento, além de sementes e fertilizantes, são os itens que puxaram os custos para cima. A situação na cana-de-açúcar é muito semelhante: custos em alta puxados, sobretudo, por mão de obra, arrendamento e fertilizantes.
Na proteína animal a situação não é diferente, uma vez que ela responde diretamente aos preços das matérias-primas para ração. Os custos do leite, atividade intensiva em mão de obra, subiram 77% de 2008 a 2012, o dobro da variação do IGP para o mesmo período. Os custos de suínos, que são mais intensivos em mão de obra do que frangos, subiram 45%, também acima do IGP. O frango ficou mais bem comportado, tendo acompanhando o IGP. Até o internacionalmente falado tomate subiu 35% nesse período. Mas no quesito mão de obra os custos subiram 50% na cultura.
Os custos em ascensão que chamam a atenção são mão de obra e arrendamento. Sementes e fertilizantes, sem bem utilizados, deveriam refletir-se diretamente em maior produtividade. Não há soluções para o aumento do custo de arrendamento, uma vez que a terra é um insumo quase exclusivo do setor agrícola e as perspectivas de demanda por seus produtos continuam positivas.
Resta a mão de obra, uma vez que o setor agrícola tem sido obrigado a competir com os demais setores da economia brasileira. A receita, nesse caso, é conhecida: desoneração, para aqueles sem espaço para mecanizar mais a produção, e mecanização, naqueles com menor grau de automação.
Voltar a reduzir os custos virou tarefa urgente, uma vez que o cenário de preços que se avizinha deverá remunerar somente os mais eficientes.
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