Valor Econômico - 17/04
Sumo da expressão "não faça o que eu faço", partidos políticos fortes e fracos, de aluguel a terceiros ou a grupos, orgânicos ou desestruturados, por diferentes razões e objetivos, a maioria camuflada em boas intenções reformistas, se mobilizam para impedir que seja criado o novo partido resultante da fusão entre o PPS e o PMN, o novo partido da rede de Marina Silva, o partido da solidariedade dos sindicalistas, o partido que o ex-governador e ex-prefeito José Serra pode ou não criar ou ao que ele pode aderir, seja lá qual agremiação for necessária para atender ao projeto eleitoral de uma pessoa ou um grupo insatisfeito com a falta de espaço de poder atual.
Mas o status quo não quer mudança. Já conseguiu seu quinhão e prefere evitar que outros consigam o seu, embora não havendo uma reforma política que permita a existência de partidos de verdade, é de se supor que cada um tenha o mesmo direito, o de criar uma legenda pela qual possa fazer suas escolhas, pleitear candidatura e evitar a ditadura partidária dos dirigentes, os donos do negócio. Defende-se a moralidade para esconder o passado imoral. Para alguns, passado muito recente.
Por que Serra tem que se submeter aos desígnios de Aécio Neves ou de José Aníbal, este que desde muitos anos atrás tem as cotoveladas mais esperadas de qualquer ensaio pré-eleitoral do PSDB? Serra pode até se conformar que Aécio já é o candidato tucano da vez, ou que em São Paulo não há mais espaço para si no PSDB mas negar-lhe o direito de ter um partido que acolha a sua vontade, e em nome de quê fazer isso, ainda está para ser um voluntarismo político aceitável. Por que Roberto Freire não pode se armar como quiser para entrar mais forte nas disputas eleitorais? Por que Marina Silva não pode disputar eleições por um partido só seu e de seus fanáticos seguidores uma vez que não se adaptou a nenhum dos existentes pelos quais conquistou mandatos e fez política até agora? Por que Paulo Pereira, de métodos tão pouco ortodoxos, não pode criar seus próprios instrumentos de ação em lugar de se impor aos comandos de outrem?
Para cada uma dessas questões as respostas são múltiplas. Por exemplo, uma que serve a muitas: porque o PT não quer outros concorrentes na reeleição da presidente Dilma Rousseff; ou porque os partidos criados também por um ajuntamento de interesses não querem perder seus adesistas, e portanto parte do tempo de propaganda na televisão e parte do fundo partidário dos que acabam seguindo para outra legenda à procura de espaço eleitoral; ainda, porque há grupos já prevendo um deslocamento do atual poder político e não quer perder o bonde.
Partido que acabou de ser criado e enfrentou disputa na Justiça até para ficar com a sigla, o PSD, cujo dono, Gilberto Kassab, e o chefe da tropa de choque, ex-deputado Saulo Queiroz, estão dando demonstrações diárias e públicas de como a política não é um espetáculo com entrada permitida a menores. Transformaram-se em mascates da venda do produto contrário ao que compraram na bacia das almas. Querem ajudar o PT e o PMDB a manter o tempo de TV e evitar o rachuncho do fundo partidário, impedindo defecções de suas fileiras dos que desejarem seguir outro partido e outras perspectivas de poder. É como se apelassem aos que conseguiram cooptar a não abandoná-los.
Foi no Supremo que Kassab ganhou seu tesouro, agora quer a mudança da lei para que o Supremo feche o cofre. O curioso é que um partido formado por insatisfeitos já tenha autocrítica para constatar que já formou, em tão pouco tempo, um pelotão de insatisfeitos que podem fugir das decisões autocráticas.
Se não há partidos no Brasil, mas candidatos e nomes de destaque na sociedade e na política, que precisam do partido como uma instância burocrática, e a lei assim o prevê, que não haja para todos. Democratizar o casuísmo até que venha uma reforma política e eleitoral e não um outro casuísmo, é preciso.
A quantidade de partidos no Brasil é vergonhosa, mas qual a diferença entre 30 e 50 partidos? A representatividade de ambos os totais é zero.
Até no definido como orgânico PT há políticos também querendo fugir das soluções personalistas, que servem a um senhor, mas não a todos. Lindbergh Farias ameaça sair do PT, como Marina Silva já o fez, porque acredita na sua candidatura e acha que o grupo do Rio já cedeu sua cota à ditadura dos donos da agremiação em outros carnavais.
Ou os partidos existem, ou não existem para todos. Roberto Freire, no comando da fusão PPS com o PMN, o novo partido em formação no momento, não tem ilusões quanto à aprovação do garrote do PT à criação de novas agremiações para impedir que surjam concorrentes à sua candidatura presidencial. Será aprovado o projeto conduzido por Edinho Araújo, proibindo a "portabilidade" do tempo de propaganda na TV e do fundo partidário a quem trocar de legenda. Mas o novo partido, se for criado hoje, está ainda dentro da antigo casuísmo, não do novo.
Tranquiliza os parlamentares quanto ao que não está escrito, a ameaça de perda do mandato com que os proprietários dos partidos existentes querem conter a migração para os novos: "Ninguém vai perder mandato, quem diz isso é que está completamente perdido, o projeto do governo garante o mandato".
Quanto ao mistério adicional que cerca o partido novo, se será ou não o destino de José Serra, é uma obra que permanecerá em cartaz por mais tempo. Como não tem mandato, Serra não tem a premência do prazo para decidir o que fazer de sua filiação partidária.
O ex-ministro Antonio Palocci é figura chave nas reuniões de coordenação da candidatura Dilma Rousseff à reeleição. Reassumiu suas antigas tarefas de ator do núcleo duro do projeto de poder do PT, entre elas explicar a empresários, industriais e banqueiros a política econômica. Fontes do partido informam que ele não tem missão arrecadadora.
O comando da campanha de reeleição encontrou estratégias para a negociação com todos os partidos, com exceção do PTB, sob o comando do denunciante do mensalão, Roberto Jefferson. Dizem que não dá para saber o que ele quer.
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