FOLHA DE SP - 04/04
Ministro Guido Mantega volta a estender redução de IPI para tentar reativar a indústria, que ainda resiste aos anseios do Planalto
A decisão do governo federal de prorrogar o abatimento do IPI para automóveis até o fim do ano, revogando o cronograma de normalização anunciado pelo mesmo governo no fim de 2012, equivale à confissão de sua impotência em restaurar a atividade na indústria -e na economia como um todo.
O Ministério da Fazenda cogita estender o favor para a linha branca de eletrodomésticos, na expectativa de aí também impulsionar as vendas. Mas o arsenal do Planalto é cada vez mais inoperante.
Em 2009, a mesma política de cortar impostos fez as vendas e a produção dispararem. O PIB cresceu 7,5% no ano seguinte e o incentivo foi suspenso. O dinamismo, porém, durou pouco.
Em maio de 2012 houve nova redução do IPI, em reação à fraqueza de vendas e aos altos estoques. O ministro Guido Mantega decerto contava repetir o sucesso de 2009, mas o crescimento do PIB foi confrangedor (0,9%). A sensação agora é de fim de festa, a despeito de recordes pontuais de vendas.
O mercado de veículos novos, incluindo caminhões e ônibus, registrou no primeiro trimestre deste ano o melhor volume de sua história. Foram 830,5 mil unidades licenciadas, uma alta de 1,5% em relação ao mesmo período de 2012.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) manteve a previsão de alta de 3,5% a 4,5% na produção deste ano, para 3,5 milhões de veículos. Mas a meta estaria ameaçada sem a renovação do abatimento do IPI, segundo o presidente da entidade, Cledorvino Belini.
Certamente a linha de argumentação se provou eficaz para convencer o governo a aceitar a renúncia fiscal (que, de abril a dezembro, engolirá R$ 2,2 bilhões). A projeção de aumento da produção, contudo, não é realista. O comportamento do mercado sugere estagnação ou até queda moderada de vendas.
Os estoques permanecem altos (34 dias), mesmo com o recorde de vendas. O crédito também não dá sinais de retomada -de um lado, a disposição dos bancos para uma nova onda de empréstimos a fim de alavancar o consumo parece arrefecer; de outro, o consumidor já está muito endividado.
Mais uma vez, o ministro da Fazenda apenas adia o problema, o que serve para confirmar que sua caixa de ferramentas se esvaziou. De duas, uma: ou o abatimento do IPI se tornará eterno, ou o consumo sofrerá um baque quando a alíquota do IPI for normalizada.
Seja como for, está mais evidente que só reiterar a política de estímulo ao consumo não tem mais o poder de catapultar o crescimento do PIB acima do nível de 3%, como deseja a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff.
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