O Estado de S.Paulo - 28/04
O megadéficit das contas externas, de US$ 24,9 bilhões no trimestre, assusta e preocupa. Mais pela espantosa velocidade de seu surgimento do que pelo valor em si. Para um país com reservas cambiais de US$ 377 bilhões, um saldo negativo das trocas com o exterior não representa risco, desde que seja previsível, transitório e possa ser revertido no curto prazo. Não parece ser o caso do Brasil. A balança comercial e as remessas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras têm mostrado déficits elevados e crescentes e só tendem a piorar com a desesperança de um rápido e favorável desfecho para a crise econômica no mundo rico. Em déficit externo, a trajetória é o que importa: se a percepção é de evolução negativa, a luz amarela acende, com risco de avermelhar, e a defesa das reservas enfraquece.
Nos últimos dez anos os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) somaram valores que superavam e financiavam o chamado déficit nas transações correntes. Com isso o ingresso e a saída de divisas registrados no balanço de pagamentos do País fecharam positivo todos esses anos. O IED é um financiador saudável, porque é dinheiro bom: vem, fica e é aplicado em investimentos produtivos. Diferentemente do dinheiro oportunista de aplicações financeiras, que busca lucro rápido e fácil e rapidamente vai embora. No trimestre, o ingresso de divisas para investimento não melhorou nem piorou, ficou em US$ 13,3 bilhões, mas foi pouco para cobrir o déficit recorde de US$ 24,9 bilhões, equivalente a 4,31% do PIB. Logo o Banco Central (BC) terá de rever suas previsões para o final de 2013: déficit externo de US$ 67 bilhões e IED de US$ 65 bilhões. Já há estimativas de US$ 70 bilhões para o déficit e de US$ 58 bilhões para investimentos.
Como o IED, a balança comercial também contribuiu nesses dez anos para o fechamento tranquilo do balanço de pagamentos. Desde 2012, porém, a importação disparou, puxada pelos combustíveis, e a exportação perdeu mercados e em valor do produto. A queda de preços atingiu 60% dos produtos exportados e a quantidade embarcada registrou expressivo tombo de 6,8%, segundo a Funcex. A crise externa explica em parte o declínio das exportações. Mas não só. Dois milionários contratos de venda de soja foram cancelados por atraso na entrega, pois o produto ficou parado em caminhões, em filas intermináveis, na estrada até o Porto de Paranaguá (PR), onde seria embarcado. Há, ainda, navios que esperam semanas para atracar em portos saturados e desaparelhados. A falta de investimentos em serviços de infraestrutura atrapalha, encarece a exportação, subtrai competitividade do nosso produto e o País perde receita cambial.
Na importação o governo cometeu erros grosseiros. Incentivou a fabricação de carros e a frota cresceu 7% em 2012. Mas não pensou nas consequências: o consumo de combustíveis disparou e a Petrobrás triplicou as importações (cadê a autossuficiência festejada por Lula?), que pesaram no resultado negativo da balança comercial. Mas o erro é maior: com a inflação batendo à porta, o governo congelou o preço dos combustíveis por longo período e a Petrobrás ficou sem dinheiro para construir novas refinarias e evitar a expansão das importações. Mais erro: como o gasto com importação triplicou, o governo recorreu ao que sabe fazer - em vez de resolver, adia o problema: concedeu mais 50 dias de prazo para a Petrobrás registrar suas importações. O comércio fechou com superávit de US$ 19,4 bilhões em 2012, mas US$ 4,5 bilhões de transações com combustíveis em 2012 foram transferidos para 2013. Chegou a hora de pagar a conta: o déficit comercial atingiu US$ 6,5 bilhões até a terceira semana de abril.
Segundo o BC, a balança comercial foi responsável por 60% do déficit externo e o aumento das remessas de lucros e dividendos, por mais 27%. As empresas estrangeiras vão continuar enviando dinheiro para suas matrizes enfrentarem a crise. A Petrobrás vai continuar importando muito. Estradas e portos não vão melhorar tão cedo.
E o futuro do déficit externo?
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