sábado, março 16, 2013

Quem confia em Kassab? - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 16/03
Ele vai ter um minuto e 34 segundos para negociar no programa dos candidatos a presidente em 2014. E isso o torna um dos políticos mais poderosos do país. Mas não quer dizer que o ex-prefeito seja querido pelo governo ou pela oposição
Quando se quer enaltecer a esperteza de um político, diz-se que o camarada é capaz de se apresentar como um tolo e conseguir a proeza de enganar a todos. O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab é um pouco esse personagem. Ao cultivar um estilo desleixado, tanto na forma como no conteúdo, o camarada se passa por alguém sem grandes ambições ou mesmo ardis. Por tais qualidades - ou melhor, defeitos -, Kassab é a própria esperteza em pessoa. Por mais que, a cada dia, o papel de bobo e inocente não o sirva mais e a imagem da dissimulação ganhe força. E a desconfiança aumente. Hoje, quem confia em Kassab levante a mão. E por que o homem consegue tanta atenção dentro e fora do governo?

A resposta mais direta é o partido, especificamente o tempo de rádio e televisão do PSD, calculado em cima de bancada de 48 deputados. Dos quase 17 minutos do tempo proporcional que os partidos terão, por programa, na eleição de 2014, Kassab - o chefe da legenda - tem um minuto e 34 segundos. A título de comparação, um comercial de qualquer empresa na TV dura 30 segundos e, a depender do produto, vende. Muito. Assim é Kassab, o homem do baile a andar com um placa luminosa, sempre pronto a levantá-la para políticos em geral, de todas as cores e credos. "Eu tenho 1 minuto e 30 segundos, eu tenho 1 minutos e trinta segundos." Todos querem bailar com ele.

Além de esperto, Kassab é um fenômeno típico da política brasileira. O cacique sem apelo nacional, ancorado na burocracia partidária, pronto a entregar o apoio a quem oferecer mais. Foi assim na criação do PSD, em 2011, quando conseguiu parlamentares do DEM, do PPS e do PSDB e se disse um colaborador da presidente Dilma Rousseff. Naquele momento, com todas as desconfianças, Kassab disse que não queria ficar amarrado ao Palácio do Planalto. O PSD, assim, seria um partido governista - afinal, daria apoio à petista -, mas manteria a independência. Na época, escrevi aqui que a legenda poderia ser oposicionista, com jeito e cara de governo. Ou governista, com cheiro de oposição. Um partido com dois amos, tal qual a comédia de Carlo Goldoni. Um jogo para lá de arriscado.

Coerência
De uma coisa, Kassab não pode ser acusado: falta de coerência. Com a mini-reforma ministerial anunciada ontem, o camarada preferiu ficar de fora da dança das cadeiras. "Nem governo, nem oposição", diria. O problema é que Kassab só anunciou a desistência horas antes de a mexida de Dilma se acertada na Esplanada. Assim, embolou as negociações e ajudou a presidente a fazer uma reforma pífia, inexpressiva, incluindo negociações no Congresso e costura de palanques para 2014. Os três anúncios de ontem apenas serviram para confirmar o óbvio: os ministérios são usados como postos políticos, em vez de servirem de núcleos de gestão de políticas públicas eficientes. Tal coisa não é culpa de Kassab, evidentemente. Ele seria apenas mais um personagem da triste trama ministerial.

Por mais que tenha um argumento razoável para recusar pastas menores - o próprio tamanho delas, evidentemente -, ao não aceitar um cargo, o PSD deixa a porta aberta para seguir fazendo o que mais gosta: barganhar. É diferente de outros partidos da base governista? Não. O problema é que os gestos de Kassab não excluem a oposição. E isso, tentar agradar ou se mostrar "amigo" de dois lados, só faz com que os partidos o vejam com desconfiança. E isso também é coerente na curta história do partido.

Outra coisa
Não deixa de ser curiosa a volta de José Serra (PSDB) ao Twitter "com regularidade". Antes da quinta-feira (13), a última aparição do tucano foi em 31 de dezembro do ano passado para desejar "Feliz Ano Novo" aos seguidores. Um intervalo de quase três meses sem qualquer movimento, qualquer comentário. Um personagem enigmático, pois. Por exemplo, até agora não se sabe se o político estava magoado com a derrota para Dilma ou simplesmente resolveu reavaliar a vida.

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