sábado, março 16, 2013

Estamos com medo - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - RS - 16/03

O que interessa para as pessoas é ter tranquilidade no lugar onde vivem e trabalham, nas ruas e praças onde circulam e, especialmente, nas suas casas.


A resistência de moradores de Porto Alegre em permitir a entrada de agentes sanitários do combate à dengue em suas residências pode ser explicada pelas páginas policiais dos jornais e pelos noticiários de rádio e televisão. Não passa dia sem que a população seja confrontada com algum crime brutal, como o recente assassinato da jovem Lauane Custódio Lucas, em frente de sua casa no bairro Partenon, por delinquentes que tentavam roubar o carro do seu namorado. É muita estupidez, é muita selvageria, é muita insegurança. Todos sabemos que a dengue deve ser combatida e que a população deve colaborar com os agentes de saúde, mas como permitir a aproximação de pessoas estranhas num clima de terror como o que se vive na capital gaúcha? Não é só na principal cidade do Estado, é verdade. A violência urbana atinge todo o Estado e todo o país. Ninguém desconhece isso. Mas o que interessa para as pessoas é ter tranquilidade no lugar onde vivem e trabalham, nas ruas e praças onde circulam e, especialmente, nas suas casas.
Sempre reclamamos da impunidade. Ontem, a polícia anunciou a prisão dos suspeitos do bárbaro crime desta semana, que devem ser julgados e punidos de acordo com a legislação. Nem é preciso dizer que a penalização dos culpados, por mais dura que seja, não diminuirá a dor dos familiares e amigos pela perda da estudante. Nem reduzirá o medo que todos sentimos quando saímos às ruas ou quando algum parente próximo demora para chegar em casa. Punir os criminosos é necessário, sim, mas insuficiente. O que precisamos todos é de proteção, de policiamento preventivo, de ações sociais e repressivas capazes de inibir a criminalidade antes que ela se manifeste.
De que adianta saber que o presídio está cheio de delinquentes, submetidos a condições desumanas que, na visão de suas vítimas, talvez até seja punição branda demais? De que adianta saber que, às vezes, a polícia age com eficiência na investigação e na detenção de criminosos, embora também seja frequente que eles fiquem pouco tempo encarcerados? De que adianta saber que existem leis rigorosas para enquadrar os marginais? O que queremos é a segurança de poder ir e vir na nossa própria cidade, sem o risco de sermos assaltados, agredidos e até exterminados por facínoras entupidos de drogas.
É possível sair deste ambiente de terror a que os brasileiros parecem condenados eternamente? Metrópoles outrora violentas, como Nova York ou mesmo cidades brasileiras que reduziram significativamente a criminalidade, comprovam que sim. Com programas sociais que incluem emprego e lazer para os jovens, com polícia comunitária e investimento em inteligência, com monitoramento de áreas mais suscetíveis a ocorrências policiais, com penas mais longas para crimes hediondos, com a implantação de vigilância eletrônica e com outras medidas que podem ser replicadas, várias cidades conseguiram dar um pouco mais de paz aos seus habitantes.
Precisamos de ações desse tipo de nossos governantes. E logo. Estamos com medo.

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