Uma bonita história para a construção da figura da gerentona. Em agosto do ano passado, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou que suplementaria as bolsas dos estudantes beneficiados pelo programa Ciência sem Fronteiras com 400 dólares ou 400 libras mensais. Chegou-se à metade de janeiro e ninguém recebeu um tostão. Numa universidade inglesa os brasileiros foram socorridos com ajuda da escola. Os repórteres Flávia Foreque e Breno Costa souberam do caso e perguntaram aos educatecas o que havia. Problemas na “adaptação do sistema”, respondeu a Capes.
Os pagamentos só seriam feitos em fevereiro. Fizeram sete perguntas e três ficaram sem resposta. Uma delas: esses episódios ocorreram em outras universidades? Silêncio. Não é da sua conta. (Ocorreram, em pelo menos outros dois países.)
O presidente da Capes, doutor Jorge Guimarães, explicou que falta-lhe estrutura para fazer o serviço. E por que prometeu? Não lhe faltou estrutura, porém, para intimidar duas estudantes que haviam reclamado. Contou que exigiu delas mensagens declarando que “não estão passando necessidades.” Assim é a burocracia dos educatecas. Na hora de fazer o serviço, nada. (O banco de questões do Enem, por exemplo.) Na hora de ferrar os estudantes, tudo. (Em 2011, a garotada foi proibida de entrar com relógio na prova.)
A doutora Dilma entrou na roda e disse à Capes que ela tinha até o final desta semana para pagar o que deve. Resta saber se o dinheiro irá para a conta dos jovens e, não indo, se o doutor Jorge Guimarães continuará no cargo. Que falta estrutura ao Ciência sem Fronteiras, todo mundo sabe, mas os educatecas acolheram a marquetagem que envolveu o projeto. Há marquetagem, mas há indiscutível êxito. Essa iniciativa inédita já beneficiou 20,6 mil bolsistas. Prometeu que, ao final do governo, chegaria a 75 mil. Portanto, faltam dois anos para conceder outras 54 mil bolsas.
Sem o tranco da doutora Dilma, os estudantes só veriam a cor do dinheiro no mês que vem. Quem perguntasse o que estava acontecendo deveria se contentar com lorotas e silêncios, e quem reclamasse seria convidado a se retratar.
Don Corleone orienta o comissariado
Num momento luminoso para o PT, o companheiro Olívio Dutra, fundador do partido, ex-prefeito de Porto Alegre e ex-governador do Rio Grande do Sul, disse ao deputado José Genoino: “Eu acho que tu deverias pensar na tua biografia, na trajetória que tens dentro do partido. Eu acho que tu deverias renunciar. Mas é a minha opinião pessoal, a decisão é tua. Não tenho porque furungar nisso.”
Dias depois o comissário André Vargas, secretário de Comunicação do partido, disse que Olívio fora “pouco compreensivo”. E mostrou a faca: “Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. (...) Ele já passou por muitos problemas, né?”
Engano. Durante o governo de Olívio Dutra, o PT gaúcho foi apanhado numa maracutaia, mas ele nunca foi acusado de envolvimento direto no caso. Processo judicial, nem pensar. Genoino e seu colegas foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
Olívio Dutra é de um tempo em que petistas rachavam apartamento em Brasília (seu parceiro era Lula). Quando deixou a prefeitura voltou a ser um bancário. Com seus bigodes e uma bolsa tétrica, anda de ônibus. Passou por problemas, mas nunca passou pelas soluções dos comissários de hoje.
A resposta do André Vargas indica que no PT 2.0, uma pessoa com a biografia de Olívio é um estorvo, tornando-se necessário colocá-lo ao alcance de qualquer suspeita.
Falta o Gibi
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse uma frase enigmática a respeito do esquema do mensalão: ele era “muito maior, muito mais amplo, do que aquilo que acabou sendo objeto da denúncia”.
Pelo cheiro da brilhantina, Gurgel passou perto de uma modalidade de capilé apelidada por uma víbora de “Gibi”. Tratava-se de um caderninho onde um comissário registrava complementações salariais para companheiros, inclusive e sobretudo do Executivo.
O “Gibi” não entrou nas investigações, muito menos na denúncia, mas se o Ministério Público teve colaboradores voluntários, soube dele.
Madame Natasha
Madame Natasha filiou-se ao PT quando soube que ele foi fundado por Sérgio Buarque de Holanda. Seguia-o porque admirava sua prosa. Ela concedeu mais uma de suas bolsas de estudo ao professor Emir Sader pela seguinte formulação:
“A imprensa brasileira está sob risco de desaparição e, de imediato, da sua redução à intranscendência, como caminho para sua desaparição.”
A madame acha que ele quis dizer o seguinte:
“A imprensa brasileira vai acabar.”
Venezuela
Não há força humana capaz de fazer com que a diplomacia americana se meta em discussões com Hugo Chávez, suas obras e suas pompas.
É a Doutrina Pocilga. Ela foi enunciada assim: “Se você entra num chiqueiro e se mete numa briga com os bichos que estão lá, é certo que vai perdê-la.”
Noutra variante, há a Doutrina Bonaparte:
“Se um sujeito entra num coquetel dizendo que é Napoleão, chame-o de imperador. Se disser que ele não é, começará uma discussão inútil.”
Faxina
A Agência Nacional de Saúde Suplementar suspendeu a venda de 225 planos de saúde de 28 operadoras. Desde julho já foram punidos cerca de 800 planos de cem empresas. Em todos os casos, não prestavam os serviços que vendiam.
Desde que a ANS começou sua faxina, as operadoras puseram em circulação uma lenda segundo a qual seus hospitais e redes de atendimento estão congestionados porque a classe C começou a comprar planos de saúde privados.
Quem ouvir isso deve saber que está sendo feito de bobo. Todas as classes compram planos de saúde porque acreditam que receberão atendimento contratado. O que dezenas de operadoras querem é receber as mensalidades sem investir no serviço ou construir hospitais para atender a clientela. Sonham com o dia em que ela paga, eles embolsam e o doente vai para o SUS.
OMC
São remotas as chances de o embaixador Roberto Azevedo conseguir o lugar de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio.
Curiosidade
Apareceu a primeira fotografia da bomba de Hiroshima tirada por alguém que estava no chão.
Uma das fotos, tirada a bordo de um avião que acompanhava o bombardeiro Enola Gay, autografada pelo comandante da missão e por três outros membros da tripulação, esteve à venda numa loja de autógrafos de Nova York por US$ 1.500.
Na mesma casa há outra, da cena da rendição japonesa a bordo do porta-aviões Missouri, autografada pelo almirante Chester Nimitz. Vale US$ 15 mil.
A primeira era rara. A segunda é comum. A diferença de preço é atribuída à sua natureza politicamente incorreta.
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