Agora em 2013, entrariam em operação 6.000 MW de energia de térmicas que foram arrematadas num leilão de 2008 para entrega em cinco anos. Foram todas vencidas por um grupo neófito, que migrou da pecuária para a geração térmica com incentivo, benção e financiamento do BNDES: o grupo Bertin. O governo não exigiu conhecimento na área. O país perdeu.
O caso Bertin foi um fracasso no setor de geração e deu com os bois e os burros n´água. Ele não conseguiu fazer o que arrematou e devolveu os projetos. Se o setor de energia tivesse exigido experiência do grupo que venceu os leilões, se tivesse havido noção de que aquela concentração era perigosa, o país poderia ter mais 6.000 MW entrando agora.
No ano passado, havia quem no Operador Nacional do Sistema quisesse começar a usar as térmicas mais baratas, as movidas a gás, para poupar água nos reservatórios. Mas prevaleceu o entendimento de que se chovesse bastante no período de chuvas seria recomposto o nível das barragens.
O governo resistiu o quanto pôde a entrar nas outras fontes renováveis, como eólicas. Quando o mundo já investia pesado nessa fonte, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, o governo dizia que era caro demais. Quando, enfim, decidiu levar essa fonte mais a sério, o preço caiu, como acontece sempre em economia de escala. Parte dos parques eólicos, no entanto, está sem interligação por falta de linhas de transmissão. Hoje, há o mesmo desprezo por energia fotovoltaica. E, contudo, ela vai se firmando como uma das opções para compor uma matriz diversificada como tem que ser.
Quando se fala que faltou planejamento, é disso que se trata. Esses três exemplos ilustram a falta de um comando no Ministério das Minas e Energia que tome providências certas no tempo exato.
Nas crises, as autoridades culpam "problemas ambientais" pelos atrasos. É como se o meio ambiente fosse um estorvo. Consórcios, empresas, governo não cumprem determinações do licenciamento e depois culpam as decisões judiciais. O que é necessário é levar sempre em consideração a variável ambiental na hora de fazer as escolhas e cumprir o exigido e assinado nos contratos.
Nas crises, aparecem todos os lobbies de volta. O setor elétrico é fragmentado em interesses os mais diversos. Tem os barrageiros, que acham que a solução será sempre hídrica. O problema aí é que o potencial remanescente está cada vez mais fundo na floresta e os custos não estão bem avaliados. Custos financeiros e fiscais, além dos ambientais e sociais. Uma hidrelétrica a dois mil quilômetros dos centros de consumo exigirá esforço enorme e caro em linhas de transmissão. Já apareceram defensores de se refazer o projeto de Belo Monte na forma original, com cinco hidrelétricas que inundariam uma enormidade no meio da mata. E há sempre os que defendem a nuclear.
O que é preciso perguntar é se é o melhor continuar apostando tanto em energia hidrelétrica, quando os regimes hídricos estão ficando cada vez mais imprevisíveis, e o Brasil já depende enormemente da energia das águas.
Reapareceram também defensores de usinas a carvão, que é a mais suja das fontes de energia, e os projetos que foram abandonados depois de 2009 eram em sua maioria dependentes de um carvão importado da Colômbia.
Se chover muito, acima da média, nos pontos certos de Minas Gerais, o Brasil poderá respirar aliviado, mas o país não pode ir de susto em susto. Precisa diversificar sua matriz com uma inclinação a favorecer as fontes mais limpas, não por exigência de movimentos ambientais, mas porque isso é mais sensato em tempos de mudança climática.
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