domingo, janeiro 13, 2013

A volta de Dilma (e de Lula) - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 13/01


O governo já passou por começo de anos bem melhores do que esse de 2013. E, até aqui, as piores notícias vieram da economia. Inflação fora do centro da meta, gambiarra nas contas públicas para fechar o ano passado, reservatórios das usinas hidrelétricas em estado preocupante. E olha que os políticos continuam na praia, o que representa menos problemas. Portanto, antes que os políticos voltem, Dilma se dedicará às tarefas mais urgentes, no caso, atrair o empresariado para os investimentos e os bancos privados para a ampliação do crédito. Daí a sequência de audiências da semana passada com setores que podem servir de propulsores do PIB e o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. Na mesma batida, o PT cuidará dos planos políticos para que ela possa atravessar esse tumultuado 2013 sem que os concorrentes encontrem terreno para crescer. E é aí que entra Lula.

A avaliação dos petistas é a de que está tudo tão antecipado que se joga agora não só os personagens de 2014, como também as perspectivas para 2018 e é preciso administrar as ambições, pelo menos para a próxima eleição. E a forma de tratar desses projetos, o PT encontrou ao avaliar em conjunto a última pesquisa de intenção de voto de 2012, aquela em que Dilma e Lula apareceram como os dois primeiros colocados na espontânea - o tipo de consulta em que eleitor menciona sua preferência sem qualquer uma lista prévia de candidatos. O cenário foi tão confortável, que o partido decidiu que não é hora de excluir desde já um ou outro. Daí, a retomada das caravanas de Lula e as poucas viagens internacionais agendadas pelo ex-presidente. Assim, ele pode dividir com Dilma os holofotes rumo ao próximo ano.

Dentro do PT, entretanto, está claro que a atual presidente é a primeira da fila e deve disputar mais um mandato. Mas, o cenário ideal para os petistas, citado inclusive nas reuniões mais reservadas do partido, é manter Dilma e Lula nessa condição de primeiro e segundo colocados em pesquisas espontâneas até às vésperas das convenções partidárias em junho do ano que vem. E para que isso ocorra, Lula ora dirá que a candidata é Dilma, ora lembrará que ainda pode concorrer novamente.

Com essa dúvida no ar os petistas apostam que podem reduzir a margem de manobra e de crescimento de candidaturas alternativas dentro da base do governo. Leia-se, Eduardo Campos, do PSB, que inclusive já pediu o tempo de tevê dos diretórios estaduais do PSB para se apresentar. O PT está convencido de que Campos não teria nada a perder concorrendo a um mandato presidencial já em 2014, nem que seja como ponta de lança para 2018. Portanto, o partido trabalhará para estreitar os caminhos que o PSB possa seguir. A presença de Lula no cenário é vista como mais uma forma de ajudar nessa tarefa.

Enquanto isso, na Fazenda…
A avaliação dos ministros e assessores palacianos é a de que a oposição está decidida a colocar Lula na berlinda sob o ponto de vista ético e centrar fogo contra a imagem de gestora. E, para evitar que essa estratégia pegue no eleitorado, Lula fará as caravanas e ajudará na política enquanto Dilma cuidará da economia. O problema é que a vida dela não está fácil. Na Fazenda, é cada vez mais forte o zum-zum-zum de sérias divergências entre o vice-ministro Nelson Barbosa e o titular, Guido Mantega, que saiu de férias e deixou os pepinos das contas maquiadas e da inflação fora do centro da meta para serem descascados por Barbosa. Mantega volta ao trabalho em 21 de janeiro.

E na oposição…
Se o problema de Dilma é a economia, o dos tucanos continua sendo a divisão interna. Na última semana ficou claro, pelas declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que ele não fechou o apoio ao senador Aécio Neves, pré-candidato a presidente da República. A defesa de prévias para escolha do candidato tucano no mínimo mantém a tensão entre paulistas e mineiros dentro do PSDB. A primeira tarefa de Aécio quando voltar das férias será cuidar de acertar os ponteiros com Alckmin e a bancada de São Paulo. Afinal, se o PSDB deseja tirar Dilma ou Lula da confortável posição que se encontram nas pesquisas, é preciso afinar os instrumentos de São Paulo com os de Minas Gerais. Mas essa é outra história.


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