Com uma demonstração de respeito pela Constituição, que diz que a posse deve ser no dia 20 de janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tomou posse oficialmente no domingo perante a Suprema Corte e ontem foi a festa oficial diante do Congresso, com o discurso para o povo. Nem mesmo a "continuidade administrativa" justificaria a mudança de datas num país onde as instituições funcionam.
O cuidado é tanto que, em 2009, o presidente da Suprema Corte, juiz John Roberts, foi à Casa Branca para Obama repetir o juramento, pois errara algumas palavras na cerimônia do dia anterior. Ontem, Obama brincou com sua filha Sasha ao final do juramento em que não errou: "Consegui".
O nervosismo natural da primeira posse dá lugar a uma maior determinação do presidente reeleito, que terá pela frente projetos políticos delicados além dos problemas econômicos: o controle de armas (a que não se referiu no discurso) e a nova lei de imigração (que fez parte dos compromissos públicos assumidos ontem).
Por sinal, a juíza da Suprema Corte Sonia Sotomayor, nomeada por Obama, foi a primeira hispânica a participar da cerimônia de posse das mais altas autoridades do país ao tomar o juramento do vice-presidente Joe Biden.
O presidente Obama reiterou a disposição de seu governo de levar a democracia a todas as partes do mundo: "Nós vamos apoiar a democracia em todo o mundo. Porque simpatizamos com aqueles que defendem a liberdade, os EUA continuarão a ser a âncora de alianças fortes em todos os cantos do mundo. Porque nenhuma nação tem uma participação maior por um mundo pacífico do que sua nação mais poderosa."
Mas Obama terá, sobretudo, que enfrentar uma situação internacional conturbada por novos focos de terrorismo no norte da África, que muitos observadores atribuem à queda do ditador libanês Muamar Kadafi, o mesmo podendo acontecer em decorrência da luta para tirar do poder o ditador da Síria, Bashar Al Assad. Em ambos os casos, as forças da Otan apoiaram e apoiam, pelo menos informalmente, as forças rebeldes, formadas por diversos grupos extremistas islâmicos, alguns ligados à Al Quaeda.
Esses "efeitos colaterais" da Primavera Árabe, que derrubou as ditaduras do Egito, da Tunísia e da Líbia, estão sendo analisados agora como uma nova fonte de problemas para o governo americano, mas não há ainda um consenso sobre quão diretamente os Estados Unidos devem enfrentar a situação.
Uma reportagem do "International Herald Tribune" lembrava ontem que o ditador Kadafi, ao ver a derrota se aproximar, advertiu os líderes ocidentais de que, se ele fosse derrubado, "o caos e a guerra santa" tomariam conta do norte da África. O painel independente que analisou o ataque de Benghazi, na Líbia, onde foi assassinado o embaixador americano J. Christopher Stevens, acusou o serviço secreto dos Estados Unidos de ter falhado na identificação das diversas milícias terroristas da região, que estão em constante mutação. O fato é que tanto a crise dos reféns no campo de gás da Argélia quanto a ação da França em Mali estão sendo vistas como consequências da ação de grupos terroristas que estiveram envolvidos na guerra que acabou derrubando o ditador Kadafi.
Num mundo multipolar onde os Estados Unidos serão "a âncora segura", mas não ditarão as regras hegemonicamente, o presidente Barack Obama assume seu segundo mandato falando em união dos americanos para superar a crise econômica e, sobretudo, fala sobre o futuro com olhos para dois objetivos: a preservação do meio ambiente, que passa a ser uma prioridade, e as inovações tecnológicas que levarão os Estados Unidos, segundo Obama, a superar a crise econômica e a manter a liderança desse novo mundo.
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