O Estado de S.Paulo - 22/01
A presidente Dilma Rousseff se mostra fortemente interessada em liderar uma virada da economia depois desses dois anos de resultados medíocres - sobretudo em avanço do PIB e em controle da inflação. Sexta-feira, em São Julião (Piauí), avisou que "em 2013 teremos crescimento sério, sustentável e sistemático". Até parece admitir a ausência dessas três qualidades em 2012.
No entanto, não se pode negar, existe uma mudança de atitude no governo. Há, por exemplo, o novo impulso às concessões de obras e de delegação de administração pública - de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e petróleo. Essa atitude contrasta com a disposição anterior, que via com desconfiança as parcerias com o setor privado.
Aparentemente ainda falta um bom despachante. As coisas emperram nos organismos encarregados de licenciamento ambiental e na Justiça. Isso demonstra que as regras do jogo nem sempre são claras e consistentes. Mas são problemas de conserto relativamente fácil.
Nada pode criar tanta insegurança paralisante quanto desarrumações nos fundamentos da economia. Não há nada de errado em derrubar substancialmente os juros e em desvalorizar a moeda. Mas esses movimentos têm de vir acompanhados por fortalecimento das contas públicas - algo que não vem acontecendo.
Se o objetivo é obter "um crescimento sério", a presidente Dilma não poderia permitir que pairasse sobre a administração da economia a suspeita de tapeação na condução das contas públicas. Durante meses seguidos, as autoridades da área econômica garantiram que o governo cumpriria um superávit de 3,1% do PIB (parcela da arrecadação para pagamento da dívida). Depois, não conseguiu dar conta do recado e aceitou que o secretário do Tesouro, Arno Augustin, apelasse para a tal contabilidade criativa e para a tricotagem de "relações incestuosas entre Tesouro, BNDES, Banco do Brasil e Caixa" - como observou o ex-ministro Delfim Netto. Essas manobras causam estrago incomensurável na confiança que se precisa ter no governo.
O Banco Central, por sua vez, nega certos passos que dá. Assegura que tem cumprido religiosamente a meta de inflação e que opera sua política monetária (política de juros) tão somente para empurrar a inflação para dentro da meta (de 4,5%). Mas todos veem que há problemas na condução da política monetária. Algo parecido acontece no câmbio. O Banco Central trabalha visivelmente a cotações praticamente fixas. E, no entanto, as autoridades continuam afirmando que a política de câmbio flutuante se mantém rigorosamente intocada.
Não haveria nada de errado nisso, desde que houvesse mais sinceridade e que as autoridades admitissem que, nas circunstâncias atuais, foi preciso ajustar as coisas de outra maneira.
Às vezes paira a impressão de que o governo Dilma não sabe nem onde errou nem por que não consegue entregar mais do que uma sucessão de pibinhos e inflação anual perto do teto da meta. Até agora, por exemplo, ninguém admitiu que a política que deu excessiva prioridade ao consumo pode ter sido equivocada, por ter descuidado do investimento.
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