FOLHA DE SP - 14/12
Creio que vamos replicar o comportamento dos EUA, com o investimento voltando a crescer
Como escrevi na coluna passada, o ano de 2012 não será esquecido com facilidade pelo analista das coisas da economia. Foi um período de grande complexidade e, principalmente, da queda de paradigmas importantes na política econômica nas maiores economias do mundo.
Na última quarta-feira, em sua reunião mensal do comitê de política monetária, o poderoso Banco Central dos Estados Unidos deu uma última e extraordinária contribuição a essa negação de símbolos da ortodoxia econômica: a partir de agora, a política de juros próximos de zero será modificada apenas se o desemprego vier abaixo do índice de 6,5% da população ativa.
Nunca foi tão transparente como agora a existência de um duplo mandato para o Banco Central americano. Está clara a busca de uma queda dos atuais níveis de desemprego como foco principal da política de juros, pelo menos até que a inflação supere os 2,5% ao ano.
Esse limite da inflação certamente foi a azeitona na empada para reduzir as críticas -que certamente virão- de que o Fed está inflacionando deliberadamente a economia com o objetivo de acelerar a saída da crise de crescimento.
Outra observação que se impõe depois dessa decisão do Fed é o reconhecimento de que nunca foi tão presente o pensamento do economista Lord Keynes como agora.
Mas vamos deixar o ano de 2012 para trás e olhar para os próximos 12 meses.
O leitor da Folha já sabe que sou otimista para o próximo ano. Há algumas semanas escrevi uma coluna -o alinhamento dos astros- em que procurei explicitar as principais razões para essa minha visão.
De lá para cá os astros continuaram nesse processo de alinhamento. Os dados de crescimento da China mostram mais força, apesar de uma queda expressiva de suas exportações de produtos industriais.
Os investimentos do governo na infraestrutura voltaram a crescer e, junto com uma aceleração na expansão do consumo das famílias, mais que compensaram a queda do setor externo.
Na Europa, consolida-se -e cada vez com mais força- a percepção de que os governos conseguiram reverter o medo de um colapso do euro que os mercados vinham precificando desde o começo do ano.
No momento em que escrevo esta coluna, as agências de notícias trazem em suas manchetes a decisão dos ministros das finanças da zona do euro de liberar -FINALMENTE- mais de € 40 bilhões para a combalida Grécia.
Nem mesmo as declarações espalhafatosas do bufão Berlusconi de que vai novamente se candidatar ao governo da Itália nas eleições do início do próximo ano conseguiram trazer de volta a especulação contra o euro.
Nos Estados Unidos, as negociações políticas para evitar o chamado precipício fiscal na virada do próximo ano também estão sendo vistas com otimismo pelos mercados. Também os preços das ações em Wall Street devem terminar o ano com valorizações expressivas e em níveis que já superam o que existia antes do colapso do mercado de hipotecas em 2008.
Para 2013, o crescimento pode superar -não em muito- os 2% ao ano e o desemprego pode aproximar-se ainda mais de níveis históricos. Mas a questão mais importante para acompanhar na terra do tio Sam será a volta do espírito animal dos empresários e, com isso, uma normalização dos investimentos.
Aqui no Brasil também a variável mais importante -e que deve definir a intensidade da recuperação do crescimento econômico- será o investimento. Creio que vamos replicar o comportamento dos Estados Unidos, com o investimento voltando a crescer, mas com um atraso de dois trimestres. Por isso, o PIB, em 2013, apresentará taxas crescentes de expansão ao longo do ano.
O consumo das famílias -que representa 2/3 do PIB no Brasil- continua na sua marcha de crescimento de 3,5% ao ano e deve replicar esse comportamento no próximo ano. Com o crescimento do investimento chegando a 6% ao ano no último trimestre do ano poderemos exibir no fechamento do ano próximo um crescimento da ordem de 3%. Mas existem alguns riscos que precisam ser monitorados.
Volto a eles em nosso próximo encontro.
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