FOLHA DE SP - 11/11
O comissariado quer um marco regulatório que assegura a liberdade na rede, desde que... e lá vem chumbo
Com mão de gato, puseram pelo menos dois cascalhos no projeto do marco regulatório da internet que permitirão a censura da rede. Coisa de mágicos. Veja-se o parágrafo 3º do artigo 9º:
"Na provisão de conexão à internet, onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, comutação ou roteamento, é vedado bloquear, monitorar, filtrar, analisar ou fiscalizar o conteúdo dos pacotes de dados, ressalvadas as hipóteses admitidas na legislação".
É o arcabouço do qual saiu o modelo chinês. A internet é livre, desde que cumpra as normas de serviço, portarias e regulamentos do governo. Felizmente o deputado Miro Teixeira apresentou uma emenda supressiva ao texto do comissariado, cortando-o a partir de "ressalvadas as hipóteses".
Outro dispositivo diz que, para "assegurar a liberdade de expressão", o provedor poderá ser responsabilizado civilmente se não cumprir uma ordem judicial que manda bloquear uma conexão. A coisa fica assim. O soldado Bradley Manning rouba 750 mil documentos secretos do governo americano, transmite-os para o site WikiLeaks por meio de um sistema impossível de ser rastreado (ele só foi descoberto porque contou sua proeza) e um juiz de Mato Grosso manda o Google esterilizar o link. Se não o fizer, pagará uma multa e seu gerente poderá ser preso.
O projeto, que poderá ser votado na terça-feira, fala na defesa da liberdade de expressão e de acesso à informação para aspergir limitações. É a técnica da reunião que baixou o AI-5, na qual se falou 19 vezes em democracia e criou-se a ditadura.
JOAQUIM 2014
Pode parecer óbvio: Joaquim Barbosa seria candidato a presidente da República em 2014.
A novidade está no fato de que pessoas habituadas a ler os astros começam a fazer planos levando em conta essa possibilidade.
Nesse cenário, Barbosa não concluiria seu mandato de dois anos na presidência do Supremo.
Ninguém ouviu uma só palavra do ministro, mas dois anos antes da eleição, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso também não falavam no assunto.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é a favor de todos os benefícios, para quaisquer categorias.
Ele defende o pagamento de R$ 51 milhões para ressarcir os juízes e desembargadores do Rio que cobram o pagamento de auxílios-alimentação atrasados desde 2004. Cretino, teme que algum doutor tenha morrido de fome.
Ele viu que alguns juízes criticaram o mimo e foram rebatidos pelo presidente do tribunal, doutor Manoel Alberto Rebêlo dos Santos: "Ele não tiveram a dignidade de se identificar".
Eremildo acha que os auxílios para alimentação, transporte, sono, banho, vestimenta e diversão devem ser pagos integralmente a todos os cidadãos. Se alguém lhe der um sanduíche por conta dessa sua desassombrada atitude, agradece.
INVESTIMENTO
Quem comprou uma ação de empresa americana em 2008, no dia da posse do companheiro Obama, dobrou seu capital.
Quem guardou o ticket do metrô daquele dia histórico gastou US$ 2,10 e usou o serviço. Caso tenha guardado bilhete, fez bom negócio. Ele hoje vale US$ 15.
ORVIL
Chegou às livrarias a edição impressa de "Orvil - Tentativas de Tomada do Poder". O título significa "Livro", escrito ao contrário.
Trata-se de um compêndio organizado em 1985 no falecido Centro de Informações do Exército. Destinou-se a contar a história do combate a grupos esquerdistas durante os anos 60 e 70 sob a ótica dos agentes de uma política de Estado que patrocinou, estimulou e encobriu torturas, assassinatos e extermínios.
Quando o livro ficou pronto, o governo Sarney resolveu arquivá-lo, para não reabrir feridas que nunca cicatrizaram. O texto foi para a internet e agora tem 922 páginas. Foi organizado pelo tenente-coronel Lício Maciel (veterano do Araguaia, onde foi ferido no rosto) e pelo tenente José Conegundes do Nascimento.
É uma árvore sem tronco. Omite os crimes do Estado, mas é um relato informativo das ações, assaltos e assassinatos praticados durante o surto terrorista.
Quando trata da Guerrilha do Araguaia, informa que no final de 1973 os efetivos do PC do B "haviam-se reduzido a um terço do existente em abril de 1972", quando o foco foi descoberto. Aceitando-se esse cálculo, eles seriam pelo menos vinte.
É aí que entra uma pergunta que poderá ser respondida por veteranos da "tigrada" e pelos atuais comandantes militares à Comissão da Verdade. Se o Exército estava lá para capturá-los, como se explica uma operação militar que não conseguiu pegar um só? Sumiram todos. Foram-se embora num disco voador albanês?
Nunca é demais lembrar: em maio de 1945, depois do suicídio de Hitler, havia 20 pessoas no seu bunker, em Berlim. Sumiu só uma.
A BRUXA QUE ATERRORIZA WALL STREET ELEGEU-SE
Terminada a eleição americana, já há um nome para se prestar atenção: Elizabeth Warren. Ela tem 63 anos, serviu mesas no restaurante da tia aos 13, tornou-se advogada especialista em falências, professora de Harvard e elegeu-se senadora pelo Estado de Massachusetts sem nunca ter disputado uma eleição.
Se a banca e as grandes corporações acreditam em bruxas, Warren é a mais malvada delas. Mesmo antes do colapso de 2008 ela defendia uma reforma de Wall Street e, sobretudo, a criação de uma agência de proteção financeira para os consumidores. A banca torrou US$ 1,3 bilhão com lobistas para desidratar a reforma, mas não conseguiu impedir a criação da agência. Por qualquer critério, Warren seria encarregada de dirigi-la. A astuciosa oposição do secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e a maleabilidade do companheiro Obama driblaram-na. Numa bonita cerimônia, ela foi encarregada de organizar a instituição, e tchau. Agora Warren chega a Washington como senadora, montada na vassoura da defesa da classe média.
Ela diz coisas que pareciam ter saído de moda. Por exemplo:
"Neste país ninguém ficou rico à sua custa -ninguém. Você transporta seus produtos em estradas que nós pagamos; você contrata pessoas que foram educadas pelo sistema público, sua fábrica está segura porque nós pagamos a polícia e os bombeiros. (...) Nosso contrato social pressupõe que você receba uma parte dos benefícios e pague para que um garoto seja beneficiado por ele."
O Partido Democrata cuida de seus azarões. Na convenção de setembro, Warren ganhou uma janela para discursar no horário nobre. Sua fala foi xumbreca. Em 2004 o partido fez coisa parecida com uma candidato ao Senado pelo Illinois. Foi a primeira vez que o mundo ouviu falar num sujeito chamado Barack Obama.
Warren chegará ao Senado com a faca nos dentes.
Serviço: a repórter Suzanna Andrews publicou um excelente perfil de Elizabeth Warren na revista "Vanity Fair". Está na rede e chama-se "The woman who knew too much".
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