CORREIO BRAZILIENSE - 11/11
Enquanto Dilma tenta fechar o cerco em torno do PMDB e do PSB, uma parcela expressiva do PDT se afasta. Cristovam Buarque, do DF, é um dos que declara não ter hoje candidato a presidente para daqui a dois anos
A presidente começa a juntar os partidos da base em torno de si, mas, via de regra, dificilmente evitará fissuras nessa barragem que tenta montar com vistas a 2014. Primeiro, é muito cacique para poucos espaços que demonstrem a capacidade gerencial de alguma legenda em termos de política pública de peso — ainda que o governo esteja perto dos 40 ministérios. Com o ministério da Pequena e Micro Empresa aprovado na semana passada serão 39 carros com bandeira verde e amarela transitando pelas ruas do Distrito Federal.
Em segundo lugar, há em meio à classe política a sensação de que o espaço para um candidato novo existe. Não por acaso, o governador da Bahia, Jaques Wagner, disse ao Correio Braziliense na semana passada que seu partido precisa pensar em abrir mão da cabeça de chapa em 2018. Citou inclusive o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como um nome para esse projeto. O problema aí é saber se os partidos terão condições de esperar até lá ou se confiam na possibilidade de o PT aceitar ser o segundo da fila. A classe política está inquieta. Tanto é que Dilma chamou PMDB, PSB, e receberá esta semana Gilberto Kassab, do PSD. Tenta segurar todos ao seu lado pelos próximos dois anos e, de quebra, amarrar o futuro.
A dúvida é se ela conseguirá, uma vez que em todos os partidos há aqueles dispostos a seguir outros rumos. No PDT, por exemplo, uma parcela expressiva do partido se considera hoje mais oposição do que governo, embora o deputado Brizola Neto, do Rio de Janeiro, seja ministro do Trabalho. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) comentava dia desses os pilares que pretende ver num programa de governo para apoiar um candidato a presidente. O primeiro que ele cita é a democracia. Ok, no Brasil não há cheiro de ditadura, nem de esquerda, nem de direita, embora esteja difícil a tolerância com quem pensa diferente. O senador se refere ao compromisso com a reforma eleitoral que o país espera há 20 anos e não sai do papel.
O segundo pilar é, na avaliação de Cristovam, a estabilidade monetária, cujo modelo se esgota. “A inflação só não estoura porque Dilma tira imposto e mantém o preço da gasolina rebaixado artificialmente”, diz o senador, que é economista. Ele cita ainda como terceiro pilar o setor público, a falta da reforma do estado, o enxugamento do número de ministérios, a política salarial para o setor público que valorize o servidor nas mais variadas carreiras.
Um quarto pilar é a política de bolsas. “Tem que haver um candidato que diga às famílias que o melhor é viver sem bolsas, que construa portões de saída desse sistema via educação”, diz Cristovam, emendando com o quinto ponto: o modelo de desenvolvimento econômico. “Temos o mesmo há 50 anos, indústria metal/mecânica e o agronegócio exportador de commodities. Precisamos de um modelo econômico baseado na produção de alta tecnologia”, diz ele, citando a necessidade de redução do consumo de energia não renovável.
“Estou pronto para apoiar um candidato que carregue isso. Eu até gostaria de ser essa pessoa, mas vejo dificuldades. O PDT hoje não tem esse projeto”, diz ele, que não se esquece das agruras que passou como candidato pedetista a presidente em 2006, quando os filiados do PDT em vários estados apoiaram Lula. Cristovam, pelo que se vê, é um dos que integra um partido aliado ao governo, mas não estará no palanque de Dilma. Resta saber se outros seguirão o mesmo caminho.
Enquanto isso, na sala de despachos…
A área política do governo Dilma Rousseff não coloca o projeto dos royalties do petróleo como um teste para a fidelidade da base. A avaliação é a de que o alinhamento dos parlamentares nessa proposta foi mais estadual — produtores versus não-produtores — do que em termos de governo versus oposição. O mesmo caso não se repetirá, entretanto, na Medida Provisória 579, que trata do novo modelo de concessão do setor elétrico e que tem como relator na Comissão Mista o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). É aí que está o grande teste da base aliada nesse período pós-eleitoral. Vamos acompanhar.
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