FOLHA DE SP - 11/11
A eleição americana teve dois fatores importantes e raros nos Estados Unidos: a diferença radical, pelos padrões americanos, das propostas dos dois candidatos e a divisão ao meio da sociedade entre propostas tão diferentes, uma combinação que traz perspectiva complexa à administração nos próximos anos.
Há várias razões para essa divisão: étnicas, de gênero, etárias. Mas o grande divisor de águas, ou de eleitores, foi a diferença das propostas econômicas, que tornou impossível a tradicional convergência americana ao centro.
Olhando a evolução política em outros países, vemos
como o debate econômico cada vez mais ocupa espaço determinante nas decisões político-eleitorais.
Na França, o socialista François Hollande foi eleito propondo manutenção do Estado de Bem-Estar Social e recusando o ajuste fiscal proposto. Porém, forçado pela realidade, voltou atrás, anunciando
medidas econômicas parecidas com as dos adversários. Com isso, sua aprovação foi a 30%, queda recorde após só um ano de mandato.
Já na Alemanha, a chanceler Angela Merkel tem aprovação elevada, apesar de suas duras propostas de austeridade. Mas a Alemanha já havia feito grande ajuste fiscal, trabalhista e securitário (que derrotou o governo Schröder nas urnas). Por causa desse ajuste, o país (e Merkel) hoje vivem os benefícios de uma economia mais competitiva, crescendo mais que a média europeia.
Na China, o grande debate na mudança de liderança é qual será o modelo econômico: se segue a abertura dos mercados ou consolida-se um controle maior do Estado.
O que vemos em todas es-sas regiões é a economia como elemento central no debate e nas decisões políticas. E a questão fiscal desponta, pois todos ou gostam de receber recursos do governo ou querem diminuir contribuições via isenções.
O governo, para atender a todos, tem que elevar a dívida pública. Contudo falta combinar com a parcela da sociedade que empresta esses recursos, pois esses investidores podem, a partir de certo ponto, demandar taxas de retorno mais elevadas ou mesmo cessar a compra dos títulos públicos porque a dívida cresce de forma inaceitável. E aí temos as crises profundas que os europeus já enfrentam e o Brasil enfrentou no passado.
Essa discussão passa também pela eficiência econômica do sistema tributário, do investimento e das despesas públicas: o que gera maior ou menor crescimento.
Conclusão: quanto mais cedo a discussão política no Brasil se voltar para temas econômicos, melhor para o futuro do país. É isso o que, de fato, interessa, como mostra o debate mundial hoje.
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