REVISTA VEJA
Os políticos, de modo geral, habitam um mundo onde as versões predominam sobre os fatos, as imagens virtuais sobre a realidade e a linguagem é usada mais para esconder do que para mostrar. Por essa razão, quando forçados a abandonar seu universo paralelo e enfrentar o escrutínio da imprensa, o aguçado senso comum da opinião pública ou a severidade da Justiça, eles partem para o ataque irracional. O escândalo do mensalão é o exemplo mais recente disso. O mensalão foi um esquema de corrupção, posto a funcionar no começo do primeiro mandato de Lula, que consistia em comprar com dinheiro desviado dos cofres públicos parlamentares da base de sustentação do governo. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou à prisão o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, punindo-o por comandar o mensalâo, que ele insistia ser uma “farsa” montada por inimigos.
O veredicto da maioria dos ministros do STF pôs fim a sete anos de dissimulações em que os brasileiros foram bombardeados pelos réus do PT e seus apoiadores com a tese de que “o mensalão nunca existiu” e tudo não passou de uma “tentativa de golpe da imprensa e da oposição”. No processo de ludibriar a nação, os políticos petistas quebraram todas as regras da convivência democrática, usando instâncias de governo para atacar e desacreditar aqueles identificados como “responsáveis” pelo escândalo. Ao condenar José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, todo o primeiro escalão do governo petista de então, o STF mostrou inequivocamente quem foram os responsáveis pelo mensalão. A solidez da acusação e o acatamento de suas teses pelos ministros pulverizaram a versão inventada pelos réus.
Os brasileiros comemoraram a decisão do STF como uma vitória dos valores republicanos, do vigor das instituições e da importância de uma imprensa livre e independente. Responsável pela descoberta do esquema de compra de parlamentares, a imprensa foi o alvo preferencial dos ataques dos mensaleiros. VEJA e os grandes jornais do Brasil não se intimidaram e continuaram a apurar e publicar notícias sobre o escândalo. A vigilância e a obstinação da imprensa foram reconhecidas pelos ministros do STF. Se a imprensa tivesse renegado sua missão de ser os olhos da nação, certamente os responsáveis pelo mensalão nunca teriam sido punidos, as versões teriam prevalecido sobre os fatos e o universo paralelo de Dirceu e companhia teria sido imposto como a verdade oficial. A euforia se justifica. O STF sinalizou o fim da impunidade de corruptos e corruptores e abriu as portas de uma nova e auspiciosa era para o Brasil.
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