domingo, outubro 14, 2012

A “farsa” deu cadeia - CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA 


Os políticos, de modo geral, habitam um mundo onde as versões predominam sobre os fatos, as imagens virtuais sobre a realida­de e a linguagem é usada mais para escon­der do que para mostrar. Por essa razão, quando forçados a abandonar seu universo paralelo e enfrentar o escrutínio da impren­sa, o aguçado senso comum da opinião pú­blica ou a severidade da Justiça, eles par­tem para o ataque irracional. O escândalo do mensalão é o exemplo mais recente dis­so. O mensalão foi um esquema de corrup­ção, posto a funcionar no começo do pri­meiro mandato de Lula, que consistia em comprar com dinheiro desviado dos cofres públicos parlamentares da base de sustenta­ção do governo. Na semana passada, o Su­premo Tribunal Federal (STF) condenou à prisão o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, punindo-o por comandar o mensalâo, que ele insistia ser uma “farsa” monta­da por inimigos.

O veredicto da maioria dos ministros do STF pôs fim a sete anos de dissimulações em que os brasileiros foram bombardeados pelos réus do PT e seus apoiadores com a tese de que “o mensalão nunca existiu” e tudo não passou de uma “tentativa de gol­pe da imprensa e da oposição”. No proces­so de ludibriar a nação, os políticos petistas quebraram todas as regras da convivên­cia democrática, usando instâncias de go­verno para atacar e desacreditar aqueles identificados como “responsáveis” pelo es­cândalo. Ao condenar José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, todo o primeiro escalão do governo petista de então, o STF mostrou inequivocamente quem foram os responsáveis pelo mensalão. A solidez da acusação e o acatamento de suas teses pe­los ministros pulverizaram a versão inven­tada pelos réus.

Os brasileiros comemoraram a decisão do STF como uma vitória dos valores repu­blicanos, do vigor das instituições e da importância de uma imprensa livre e indepen­dente. Responsável pela descoberta do es­quema de compra de parlamentares, a imprensa foi o alvo preferencial dos ataques dos mensaleiros. VEJA e os grandes jornais do Brasil não se intimidaram e continuaram a apurar e publicar notícias sobre o escân­dalo. A vigilância e a obstinação da im­prensa foram reconhecidas pelos ministros do STF. Se a imprensa tivesse renegado sua missão de ser os olhos da nação, certamen­te os responsáveis pelo mensalão nunca te­riam sido punidos, as versões teriam preva­lecido sobre os fatos e o universo paralelo de Dirceu e companhia teria sido imposto como a verdade oficial. A euforia se justifi­ca. O STF sinalizou o fim da impunidade de corruptos e corruptores e abriu as portas de uma nova e auspiciosa era para o Brasil.

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