domingo, outubro 14, 2012

A FARSA DA BIOGRAFIA - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA 


ADRIANO CEOLIN

José Genoino foi alçado ao posto de líder máximo do PT, acumulando a operação do esquema de compra de partidos e a de suborno de parlamentares


Em 1972, Geraldo não tinha sobrenome. Era apenas mais um dos jo­vens que se embrenha­ram nas matas do sul do Pará, membro de um grupo guerri­lheiro que pretendia implan­tar uma ditadura comunista no Brasil. Preso, torturado e condenado pelos militares, o estudante José Genoino Neto se transformaria, a partir da­li, num ícone da esquerda, um símbolo da resistência, um herói sobrevivente. Afi­nal, poucos tiveram uma se­gunda chance. Dos seus 97 antigos companheiros que foram guerrear no Araguaia,

65 ainda são contabilizados como de­saparecidos. Quarenta anos depois, desta vez num ambiente plenamente democrático, Genoino enfrentou um novo julgamento — e foi condenado outra vez, agora por corrupção ativa. Como presidente do PT, ele participou diretamente da montagem do mensa­lão, o esquema que seu partido criou para subornar parlamentares no Con­gresso Nacional — o pior dos golpes contra a democracia desde que ela foi instalada no Brasil.

Quando explodiu o escândalo do mensalão, em 2005, José Genoino era o representante máximo do poder do partido. Sua primeira manifestação para a história veio por meio de nota: a denúncia não tinha o “mínimo fun­damento na realidade”. Um mês de­pois, revelou-se que Genoino, ao contrário do que dissera, estava direta­mente envolvido no escândalo. Como presidente do PT, sua assinatura apa­recia junto com a do tesoureiro Delúbio Soares e a do publicitário Marcos Valério como avalistas de um empréstimo tomado pelo partido no ban­co BMG. Indagado, Genoino negou de novo: “Nunca. Ele (Valério) nunca foi avalista do PT. Não tem isso, n3o”. A publicação do contrato no qual apareciam as assinaturas do trio desmentiu mais uma vez o deputado, que partiu para uma terceira guerri­lha contra os fatos, dessa vez admitindo o que an­tes havia negado: “Ele (Valério) foi avalista por­que nossos bens indivi­duais não eram suficientes (para o empréstimo)”. O elo entre os persona­gens principais do caso começava a se fechar. À medida que as investiga­ções avançavam, o mito Genoino começou a miti­gar. Ficou demonstrado que o deputado participava das negociações políticas com os “partidos g burgueses” e, ao mesmo tempo, buscava dinheiro para comprá-los. Em S 2006, um ano depois do escândalo, Genoino ainda tentou um novo mandato, o sexto. Seu capital político, porém, foi minguando. Em 2010, já denunciado pela Procuradoria-Geral da Repúbli­ca como um dos integrantes da qua­drilha do mensalão, o deputado não conseguiu a reeleição. Como conso­lação, ganhou um cargo de assessor especial no Ministério da Defesa, no qual permaneceu até a semana passa­da, quando foi anunciada sua conde­nação pelo STF. “Retiro-me do go­verno com a consciência dos inocen­tes. Não me envergonho de nada”, disse. Sua pena pode chegar a 23 anos de cadeia. A defesa ainda invo­cou o histórico de Genoino de luta pela democracia e sua falta de apego material. Mas não era toda a biografia dele que estava em julgamento. Era apenas a parte mais infame.

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