ADRIANO CEOLIN
José Genoino foi alçado ao posto de líder máximo do PT, acumulando a operação do esquema de compra de partidos e a de suborno de parlamentares
Em 1972, Geraldo não tinha sobrenome. Era apenas mais um dos jovens que se embrenharam nas matas do sul do Pará, membro de um grupo guerrilheiro que pretendia implantar uma ditadura comunista no Brasil. Preso, torturado e condenado pelos militares, o estudante José Genoino Neto se transformaria, a partir dali, num ícone da esquerda, um símbolo da resistência, um herói sobrevivente. Afinal, poucos tiveram uma segunda chance. Dos seus 97 antigos companheiros que foram guerrear no Araguaia,
65 ainda são contabilizados como desaparecidos. Quarenta anos depois, desta vez num ambiente plenamente democrático, Genoino enfrentou um novo julgamento — e foi condenado outra vez, agora por corrupção ativa. Como presidente do PT, ele participou diretamente da montagem do mensalão, o esquema que seu partido criou para subornar parlamentares no Congresso Nacional — o pior dos golpes contra a democracia desde que ela foi instalada no Brasil.
Quando explodiu o escândalo do mensalão, em 2005, José Genoino era o representante máximo do poder do partido. Sua primeira manifestação para a história veio por meio de nota: a denúncia não tinha o “mínimo fundamento na realidade”. Um mês depois, revelou-se que Genoino, ao contrário do que dissera, estava diretamente envolvido no escândalo. Como presidente do PT, sua assinatura aparecia junto com a do tesoureiro Delúbio Soares e a do publicitário Marcos Valério como avalistas de um empréstimo tomado pelo partido no banco BMG. Indagado, Genoino negou de novo: “Nunca. Ele (Valério) nunca foi avalista do PT. Não tem isso, n3o”. A publicação do contrato no qual apareciam as assinaturas do trio desmentiu mais uma vez o deputado, que partiu para uma terceira guerrilha contra os fatos, dessa vez admitindo o que antes havia negado: “Ele (Valério) foi avalista porque nossos bens individuais não eram suficientes (para o empréstimo)”. O elo entre os personagens principais do caso começava a se fechar. À medida que as investigações avançavam, o mito Genoino começou a mitigar. Ficou demonstrado que o deputado participava das negociações políticas com os “partidos g burgueses” e, ao mesmo tempo, buscava dinheiro para comprá-los. Em S 2006, um ano depois do escândalo, Genoino ainda tentou um novo mandato, o sexto. Seu capital político, porém, foi minguando. Em 2010, já denunciado pela Procuradoria-Geral da República como um dos integrantes da quadrilha do mensalão, o deputado não conseguiu a reeleição. Como consolação, ganhou um cargo de assessor especial no Ministério da Defesa, no qual permaneceu até a semana passada, quando foi anunciada sua condenação pelo STF. “Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada”, disse. Sua pena pode chegar a 23 anos de cadeia. A defesa ainda invocou o histórico de Genoino de luta pela democracia e sua falta de apego material. Mas não era toda a biografia dele que estava em julgamento. Era apenas a parte mais infame.
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