O GLOBO - 01/06
Há uma nova frente fria do mundo: China, Índia e Brasil estão reduzindo o crescimento. Ontem saiu o dado da Índia, o menor em 9 anos. A China já não segura o crescimento de dois dígitos há tempos e agora está desacelerando mais. O Brasil não consegue sustentar 3%. O trio está assustando. Na Europa, a cada dia, uma nova agonia. Ontem foram divulgados dados mostrando que 100 bilhões fugiram do Espanha em três meses.
Os Estados Unidos ainda estão tentando se recuperar com idas e vindas nos indicadores. O crescimento no primeiro trimestre foi ontem revisado para baixo, para 1,9%, anualizado. O dado trimestral que sairá hoje do Brasil deve mostrar quase estagnação na comparação com o último trimestre do ano passado. O PIB em 12 meses ficará ainda menor que o tímido número de 2,7% com que se fechou o ano de 2011.
Que os países de industrialização antiga estão em crise e com baixo crescimento já se sabe há muito tempo. A esperança pousou exageradamente sobre o ritmo dos emergentes. E há uma ligação entre todos eles, o que significa que os países sobem e descem juntos. A China puxa vários países de diferentes níveis de desenvolvimento. A demanda chinesa sustenta as economias maduras, as emergentes e as em desenvolvimento na África. Ela encomenda produtos no mundo inteiro.
O Brasil é muito dependente do ritmo chinês. Para se ter uma ideia, o país saiu de um superávit de US$ 10 bilhões com os Estados Unidos, em 2006, para um déficit de US$ 8,2 bilhões, no ano passado. Saiu de um déficit com a China de US$ 3,5 bilhões, em 2008, para um superávit de US$ 11,5 bi. Quando faltou a força dos Estados Unidos, o Brasil foi puxado pela China.
A Índia teve uma queda no seu ritmo de crescimento neste começo do ano que supera o mergulho do auge da crise de 2008. A alta do PIB tinha sido de 9,2% no primeiro trimestre do ano passado e neste foi de 5,3%. É o pior número em quase uma década. A Índia teve ainda uma desvalorização cambial de 25% - 12% apenas este ano - e a inflação voltou a bater em 7%, o que tornará difícil reduzir os juros. Enfrenta uma paralisia política, que interrompe o programa de reformas, e tem um enorme déficit em transações correntes. A revista eletrônica Slate disse que a queda simultânea do ritmo de crescimento na China, Índia e Brasil é "uma notícia horrível" para o resto do mundo.
Na verdade, o Brasil só teve um ano de aceleração forte, em 2010, quando se recuperava da recessão de 2009. Daí para diante seu ritmo voltou a níveis baixos. Não há comparação com o passo da China e Índia, os dois países responsáveis pelo mundo ter mantido algum ritmo de crescimento mesmo durante o colapso financeiro de 2008-2009.
O Brasil cresce menos que os dois asiáticos. Isso há vários anos. O problema agora é que o encantamento dos investidores com o Brasil está perdendo intensidade. Os analistas começam a apontar cada vez mais os problemas do país - falta de reformas, impostos excessivos, logística ineficiente e corrupção - e falam menos das perspectivas criadas pela expansão do mercado interno.
A indústria brasileira teve a segunda queda seguida, em abril, e nos quatro primeiros meses do ano a redução foi de 2,8%, em relação ao mesmo período de 2011. Mas um dado que impressionou visto de fora não tem exatamente o motivo que os analistas imaginam. A redução forte da venda de caminhões e ônibus, que chegou a uma queda de 22% no começo de maio, foi apontada pela Slate como prova da desaceleração brasileira. Tem, no entanto, um fator bem específico: a mudança tecnológica dos motores para rodar com diesel mais limpo, o Euro 5, produziu um acúmulo de veículos no pátio. Os compradores ficaram em dúvida se valeria a pena pagar mais caro pelo veículo e pelo combustível, e ainda correr o risco de não encontrar o produto porque, inicialmente, a distribuição foi muito ineficiente.
O jornal inglês "Financial Times" também ressaltou a coincidência do trio em desaceleração - China, Índia e Brasil. De nós, o jornal diz que o Banco Central reduziu os juros a níveis históricos para tentar reverter a queda do crescimento de 7,5%, em 2010, para 1% anualizado nos últimos meses.
O que mais assusta é a China. Qualquer movimento que o país faça mexe com os preços dos ativos, as expectativas, as decisões de investimento. O país antes era visto como tendo encontrado uma fórmula infalível de crescimento. Hoje, os defeitos da economia chinesa começam a ser ressaltados. A "Economist" fez uma reportagem de capa empilhando os defeitos da China. Segundo a revista, o modelo econômico não é justo: os bancos exploram os poupadores sub-remunerando o capital, tanto que começa a haver saída de dinheiro para aplicar em outros países; as barreiras comerciais permitem que as empresas estatais cobrem demais pelos produtos que fornecem; o sistema nega aos trabalhadores rurais que vão trabalhar nas cidades os mesmos direitos dos trabalhadores que sempre moraram nos centros urbanos; leis arbitrárias permitem as autoridades locais explorarem os produtores rurais.
Dos Brics, só a Rússia está acelerando, mas é resultado da alta - já revertida - do preço do petróleo. Brasil, China e Índia reduzem o ritmo em patamares diferentes e por motivos diferentes. O que acontece com China, Índia e Brasil é que investidores têm falado mais dos defeitos que das virtudes das três economias.
Os Estados Unidos ainda estão tentando se recuperar com idas e vindas nos indicadores. O crescimento no primeiro trimestre foi ontem revisado para baixo, para 1,9%, anualizado. O dado trimestral que sairá hoje do Brasil deve mostrar quase estagnação na comparação com o último trimestre do ano passado. O PIB em 12 meses ficará ainda menor que o tímido número de 2,7% com que se fechou o ano de 2011.
Que os países de industrialização antiga estão em crise e com baixo crescimento já se sabe há muito tempo. A esperança pousou exageradamente sobre o ritmo dos emergentes. E há uma ligação entre todos eles, o que significa que os países sobem e descem juntos. A China puxa vários países de diferentes níveis de desenvolvimento. A demanda chinesa sustenta as economias maduras, as emergentes e as em desenvolvimento na África. Ela encomenda produtos no mundo inteiro.
O Brasil é muito dependente do ritmo chinês. Para se ter uma ideia, o país saiu de um superávit de US$ 10 bilhões com os Estados Unidos, em 2006, para um déficit de US$ 8,2 bilhões, no ano passado. Saiu de um déficit com a China de US$ 3,5 bilhões, em 2008, para um superávit de US$ 11,5 bi. Quando faltou a força dos Estados Unidos, o Brasil foi puxado pela China.
A Índia teve uma queda no seu ritmo de crescimento neste começo do ano que supera o mergulho do auge da crise de 2008. A alta do PIB tinha sido de 9,2% no primeiro trimestre do ano passado e neste foi de 5,3%. É o pior número em quase uma década. A Índia teve ainda uma desvalorização cambial de 25% - 12% apenas este ano - e a inflação voltou a bater em 7%, o que tornará difícil reduzir os juros. Enfrenta uma paralisia política, que interrompe o programa de reformas, e tem um enorme déficit em transações correntes. A revista eletrônica Slate disse que a queda simultânea do ritmo de crescimento na China, Índia e Brasil é "uma notícia horrível" para o resto do mundo.
Na verdade, o Brasil só teve um ano de aceleração forte, em 2010, quando se recuperava da recessão de 2009. Daí para diante seu ritmo voltou a níveis baixos. Não há comparação com o passo da China e Índia, os dois países responsáveis pelo mundo ter mantido algum ritmo de crescimento mesmo durante o colapso financeiro de 2008-2009.
O Brasil cresce menos que os dois asiáticos. Isso há vários anos. O problema agora é que o encantamento dos investidores com o Brasil está perdendo intensidade. Os analistas começam a apontar cada vez mais os problemas do país - falta de reformas, impostos excessivos, logística ineficiente e corrupção - e falam menos das perspectivas criadas pela expansão do mercado interno.
A indústria brasileira teve a segunda queda seguida, em abril, e nos quatro primeiros meses do ano a redução foi de 2,8%, em relação ao mesmo período de 2011. Mas um dado que impressionou visto de fora não tem exatamente o motivo que os analistas imaginam. A redução forte da venda de caminhões e ônibus, que chegou a uma queda de 22% no começo de maio, foi apontada pela Slate como prova da desaceleração brasileira. Tem, no entanto, um fator bem específico: a mudança tecnológica dos motores para rodar com diesel mais limpo, o Euro 5, produziu um acúmulo de veículos no pátio. Os compradores ficaram em dúvida se valeria a pena pagar mais caro pelo veículo e pelo combustível, e ainda correr o risco de não encontrar o produto porque, inicialmente, a distribuição foi muito ineficiente.
O jornal inglês "Financial Times" também ressaltou a coincidência do trio em desaceleração - China, Índia e Brasil. De nós, o jornal diz que o Banco Central reduziu os juros a níveis históricos para tentar reverter a queda do crescimento de 7,5%, em 2010, para 1% anualizado nos últimos meses.
O que mais assusta é a China. Qualquer movimento que o país faça mexe com os preços dos ativos, as expectativas, as decisões de investimento. O país antes era visto como tendo encontrado uma fórmula infalível de crescimento. Hoje, os defeitos da economia chinesa começam a ser ressaltados. A "Economist" fez uma reportagem de capa empilhando os defeitos da China. Segundo a revista, o modelo econômico não é justo: os bancos exploram os poupadores sub-remunerando o capital, tanto que começa a haver saída de dinheiro para aplicar em outros países; as barreiras comerciais permitem que as empresas estatais cobrem demais pelos produtos que fornecem; o sistema nega aos trabalhadores rurais que vão trabalhar nas cidades os mesmos direitos dos trabalhadores que sempre moraram nos centros urbanos; leis arbitrárias permitem as autoridades locais explorarem os produtores rurais.
Dos Brics, só a Rússia está acelerando, mas é resultado da alta - já revertida - do preço do petróleo. Brasil, China e Índia reduzem o ritmo em patamares diferentes e por motivos diferentes. O que acontece com China, Índia e Brasil é que investidores têm falado mais dos defeitos que das virtudes das três economias.
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