sexta-feira, junho 01, 2012

Alvo errado - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 01/06


MTB deveria contratar Kakay para defendê-lo de grave acusação de gostar de gravatas e ternos caros


EU SEI o que Gilmar, Lula, Jo­bim e companhia estavam fazendo naquela sala. Pes­soal estava decidindo no bolso de que deputado ia colocar a calcinha que apareceu no Congresso. São mesmo uns piadistas...

Não gostou? Então vamos falar sé­rio. Há questão de uns dois anos e meio, minha mãe ligou para dizer que achava um absurdo alguém do calibre de Márcio Thomaz Bastos se prestar a defender o dr. Roger Abdelmassih, o médico acusado de assediar pacientes. Achei o ques­tionamento interessante e fui in­vestigar para escrever uma coluna.

Volto ao mesmo tipo de argumen­tação, só que agora ela vem em tom bem mais raivoso.

Márcio Thomaz Bastos é reco­nhecidamente o melhor advogado criminalista do país, tanto é que a OAB em peso assinou uma nota de apoio a ele nesta semana. Mostre-me uma pessoa de posses ou empresa de porte que não tenha em al­gum tempo em sua história recor­rido aos seus serviços e eu lhe darei um picolé de limão.

Já faz cinco anos que MTB deixou o governo Lula. Se estivéssemos fa­lando do mundo corporativo, isso não seria um tempo para lá de ge­neroso para um acordo de não competição em caso de desliga­mento da empresa?

Acusam-no de cultivar o gosto por roupas caras e belas gravatas. Faz todo sentido. Gostar de ternos bem cortados é crime gravíssimo. Tho­maz Bastos deveria ser obrigado a contratar um criminalista de peso. Só não aconselho que seja o tal Ka­kay, o advogado do Demóstenes, senão é condenação na certa. Por atentado aos nossos olhos. Basta ver os trajes que aquele papagaio das ilha de Papua considera adequa­dos para frequentar uma CPI.

A título de exercício, percorra co­migo um caminho generoso. No auge da carreira, sujeito vende seu escritório cheio de clientes baten­do à porta e vai ser ministro em Brasília, servindo ao país por dois mandatos (foi o único ministro da Justiça de Lula; FHC teve nove). Segurou as pontas no mensalão? Imagino que tenha feito verdadei­ros malabarismos. Como conse­guiu manter Lula lá? Parece-me que coincidências como o fato de que Marcos Valério (na época) e Carlos Cachoeira (agora) serem conheci­dos tanto de petistas quanto de tu­canos possa ter algo a ver com isso. O que não invalida o mérito do pro­cesso contra os mensaleiros.

E se MTB é tão influente, por que não ganha todos os seus processos que chegam ao STF? E por que nin­guém faz os mesmos questiona­mentos que fazem a seu respeito sobre José Carlos Dias (por quem, aliás, tenho enorme apreço)? Será que os clientes deste outro crimi­nalista são todos inocentes? A ori­gem do dinheiro deles é menos ilí­cita? Ou o ex-ministro de FHC aten­de de graça?

Bastos teria cobrado R$ 15 mi­lhões do bicheiro. A cifra é astronô­mica, concordo. Mas isso é proble­ma do Fisco. Como é problema do Neymar com o IR o quanto ele ga­nha por ser o melhor. Pessoal não reclama o tempo todo que jogador ganha além do que deveria?

Quando ministro, MTB iniciou uma dedetização no Judiciário e na polícia, promoveu o desarmamen­to e sempre teve a defesa das mino­rias como prioridade. Ele vota no PT? Ninguém é perfeito. Mas, em vez de ficar de picuinha contra ele, que tal prestar atenção ao que real­mente interessa? Exemplo: como votou e irá votar daqui para frente o ministro Gilmar. Vamos ficar de olho?

Nenhum comentário: