O GLOBO - 01/06
Se não é uma primeira vez, pelo menosestamos diante de fato raríssimo. Tudo bem, não é a primeira vez que Brasília inova e surpreende. Acontece que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes passou a figurar, esta semana, na lista dos senhores a ter o possível desprazer de serem chamados a conversar com uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). Pensando bem, acho que é coisa inédita mesmo.
Seja como for, o desprazer se agrava pelo fato de se tratar da comissão que investiga as relações com empresas, parlamentares e governadores do bicheiro Carlos Augusto Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira. Não há informação confiável sobre a substância que jorra nessa cachoeira. Nem é convocação que costume atingir os membros do STF. Mas Gilmar cometeu a imprudência — o que nas altas esferas do poder é considerado grave pecado — de ter mantido, numa viagem à Alemanha, cordiais contatos com o senador Demóstenes Torres (que está deixando o DEM e ainda não achou legenda que deseje abrigá-lo; no atual cenário político, dar bom-dia a esse senador é algo parecido com usar bombarelógio como despertador.)
Demóstenes é apontado pela Polícia Federal como o principal braço político de Carlinhos Cachoeira. Gilmar, como dizem os meninos lá de casa, não está numa boa. Sua primeira tentativa pública de defesa incluiu o argumento de que o Brasil não é a Venezuela — lembrando o hábito desagradável do ditador Chávez de, quando contrariado, botar juízes na cadeia. Ele não chegou ao ponto de afirmar que há risco disso nestas bandas, mas sua explicação não deixou de ser imaginosa: ela sugere que talvez, quem sabe, haja uma conspiração sinistra para enfraquecer o STF. Coincidiria com o momento em que o tribunal se prepara para julgar o processo do mensalão. Para quem já esqueceu, foi aquele escândalo, no governo Lula, de compra de votos de parlamentares; 40 foram denunciados e sei lá o que aconteceu depois; provavelmente, o processo avança, lépido como uma tartaruga idosa.
Enfim, esperemos pelo embate entre o ministro do Supremo e os seus interrogadores na comissão do Congresso. Em que vocês apostam: duro interrogatório ou troca de gentilezas?
P.S.: Ao contrário do publicado aqui na terça passada, o ministro Gilmar Mendes admitiu ter encontrado o senador Demóstenes Torres na Alemanha, e não o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
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