FOLHA DE SP - 01/06
SÃO PAULO - No "Equilíbrio" da última terça, Rosely Sayão veio em socorro de uma professora cujos alunos em fase de alfabetização se recusam a escrever manualmente.
De acordo com os diabretes, fazê-lo seria uma inutilidade, já que o teclado é hoje onipresente.
A colunista defende a escrita manual e, mais especificamente, a letra cursiva, afirmando que sua preservação é uma questão de cidadania, já que existem ainda muitas pessoas que não têm acesso à tecnologia.
Em grandes linhas, concordo com a psicóloga, mas tenho uma ou duas coisinhas a acrescentar. Rabiscar caracteres à mão -pode ser em letra de forma; eu não colocaria tanta ênfase na cursiva- parece ser um elemento importante para que as crianças dominem o código alfabético.
O problema é que, ao contrário da linguagem falada, que é um item de fábrica no ser humano (não há bando que não disponha de um idioma), a escrita, com seus 5.500 anos, é uma invenção relativamente moderna e rara. Não surgiu mais do que três ou quatro vezes ao longo da história.
Nossas mentes, forjadas para uma existência pré-histórica, não lidam tão bem com esse código. Trabalhos de neurocientistas como Maryanne Wolf e Stanislas Dehaene mostram que o ato de ler implica reprogramar o cérebro, integrando, com a criação de conexões neuronais, estruturas especializadas em percepção visual, processamento léxico e fonológico e cognição. Essas novas sinapses permitem que áreas tão diversas sejam cooptadas para trabalhar com harmonia e rapidez, nos dando a falsa impressão de que ler é natural.
Uma outra neurocientista, Karin Harman James, sustenta que a escrita manual, o desenhar das letras, ao acrescentar uma dimensão motora a essa sinfonia, contribui para catalisar o aprendizado e fixar melhor os elementos da escrita na memória.
A pergunta não é se jovens precisam escrever à mão, mas a partir de que idade podem deixar de fazê-lo.
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