FOLHA DE SP - 07/05/12
Acumulam-se evidências de que a volta do crescimento será lenta. Contrariando expectativas, a produção industrial teve queda de 3% no primeiro trimestre, sobre o mesmo período de 2011, concentrada em bens duráveis e de capital.
A redução no grupo de bens de capital é especialmente preocupante. Ela indica que o investimento se acha estagnado, a despeito dos estímulos do governo.
O crédito também permanece fraco. Mais do que pouca disposição dos bancos para emprestar, falta demanda. Juros mais baixos certamente ajudam, mas é pouco provável uma nova onda de endividamento das famílias.
Apenas o consumo de bens não duráveis permanece robusto, impulsionado pelo aumento da renda e pela queda da inflação. Mas, sozinho, não é suficiente para compensar o recuo em outros setores. Por isso, salvo uma recuperação muito forte no segundo semestre, há risco real de crescimento do PIB inferior a 3% neste ano.
Se confirmado o prognóstico, será algo novo no Brasil. No passado não distante, uma configuração como a atual -juros reais próximos a 3% ao ano (descontada a inflação), política fiscal expansiva e forte crescimento da renda- resultaria em superaquecimento.
A letargia da atividade econômica vai além de um fenômeno cíclico. Há esgotamento do modelo de crescimento baseado no crédito ao consumo e na alta de preços das commodities exportadas.
Nenhum outro vetor de crescimento parece ter condições de substituir essa dupla. O candidato óbvio a novo motor da economia seria o investimento, que, no entanto, permanece abaixo de 20% do PIB, uma das menores taxas entre todos os países emergentes.
Estimular investimentos é tarefa mais complexa do que impulsionar vendas de carros e eletrodomésticos, especialidade do governo federal nos últimos anos.
Um avanço promissor envolveria dar consequência à receita simples -porém esquemática- da própria presidente Dilma Rousseff para desfazer as três amarras do país (taxa de juros, taxa de câmbio e impostos altos) e trilhar o que chamou de "quarto caminho" -educação de qualidade.
Há progressos nos juros e no câmbio, facilitados pela conjuntura interna e externa. Mas, no que se refere a impostos e educação, pouco se faz de mais ambicioso.
Há anos o país espera, em vão, que o governo federal controle suas despesas, o que em tese permitiria estancar o crescimento da arrecadação e reduzir a carga tributária.
Um compromisso de redução gradual de impostos sobre a produção, para todos os setores e não só os escolhidos a dedo, seria a melhor contribuição para acender o ânimo empresarial e iniciar um ciclo duradouro de crescimento.
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