RIO DE JANEIRO - Quando São Paulo instituiu o programa Cidade Limpa, em 2007, nós, no Rio, ficamos com inveja. Era a prova de que não estávamos condenados a olhar para nossas cidades e apenas tartamudear, "O horror... O horror...", como Kurtz, em "Coração das Trevas", de Joseph Conrad -no caso, o horror provocado pelo lixo visual pespegado aos prédios e lojas, agredindo-nos com a cafonice de seu gigantismo e suas cores. Por que o ser humano insiste em acanalhar o ambiente em que vive?
São Paulo provou que se podia tomar providências -decretar a proibição e varrer aquilo de nossas vistas. A medida do prefeito Gilberto Kassab foi ainda mais corajosa porque se sabia que os estabelecimentos comerciais e as agências de propaganda tentariam vergar a lei, e pelo fato de a cidade não ter uma grande tradição de preservação paisagística e ambiental. Os processos vieram, a prefeitura os enfrentou na Justiça e venceu, e São Paulo ficou mais humana.
No Rio, o prefeito Eduardo Paes acaba de adotar a medida, ainda que não tão radical -limita-se à zona sul e ao centro, e não contempla bancas de jornal, abrigos e ônibus. Mas impõe limites, inclusive para as fachadas das lojas, que não poderão esmagar o transeunte que passa por elas, e promete evaporar das marquises, da lateral e do alto dos edifícios os outdoors que impedem o carioca de contemplar sua paisagem. Já vão tarde.
E por que os botequins do Rio, tão ricos de história e variedade gastronômica, se submeteram às cervejas, cujas cores padronizaram seus letreiros e banalizaram quarteirões inteiros? Pois terão de ser como antes, com suas cores próprias, assim como, um dia, as praias se livrarão da ditadura do vermelho e recuperarão suas barracas coloridas.
No Rio, o horizonte costumava ficar no infinito. Logo voltará a ficar.
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