segunda-feira, setembro 12, 2011

GORDON BROWN - Divididos, tombaremos!


Divididos, tombaremos!
GORDON BROWN
Valor Econômico - 12/09/2011

Apolítica atropelou o pensamento econômico sensato nos EUA, neste verão (hemisfério norte), quando o Congresso e o presidente Barack Obama não conseguiram um consenso em torno de impostos, direitos sociais, déficits ou estímulo a investimentos. Os líderes europeus também mostraram-se paralisados - descartando tanto defaults e desvalorizações como déficits e estímulo. E, tendo assumido taxas de juro reais negativas, imprimido dinheiro, injetado liquidez e subsidiado bancos varejistas, os presidentes de bancos centrais em todo parte - mais recentemente, Ben Bernanke, do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) - parecem ter concluído que também atingiram o limite do que podem fazer.

Como resultado, poucas pessoas duvidam, hoje, de que o mundo está à deriva - sem rumo e sem liderança -, rumo a uma segunda recessão. O debate de pré-verão sobre se estamos em uma "nova normalidade" de crescimento mais lento foi resolvido: nada agora parece normal. Empurrar com a barriga não deu certo. Incapaz de concluir um acordo de comércio mundial, um acordo para enfrentar as mudanças climáticas, um pacto de crescimento ou mudanças no regime financeiro, o mundo provavelmente mergulhará em um novo protecionismo na forma de desvalorizações competitivas, guerras cambiais, restrições ao comércio e controle de capitais.

Mas este não é um momento para derrotismo. Os países que alegam ter atingido o limite do que podem fazer querem, na realidade, dizer que atingiram o limite do que podem fazer individualmente. O caminho para futuro crescimento e emprego sustentados não passa por uma enxurrada de iniciativas nacionais pontuais extraordinárias, mas sim por uma coordenação política mundial.

Esse era o objetivo em abril de 2009, quando o G-20 fixou, para si, três tarefas cruciais. A primeira, evitar uma depressão mundial, teve êxito. As outras duas - um pacto de crescimento, sustentado por um sistema financeiro mundial reformulado - deveriam ser, agora, os principais itens na agenda do G-20, quando o grupo se reunir.

Há dez anos o motor econômico americano podia impulsionar a economia mundial e daqui a 10 anos, a partir de hoje, os países de mercados emergentes deverão assumir esse papel, particularmente dado o poder de compra crescente de suas classes médias.

Em 2010, estima o Fundo Monetário Internacional, uma abordagem macroeconômica, comercial e de políticas estruturais coordenadas poderia resultar em um PIB mundial 5,5% maior, criar até 50 milhões de novos empregos e tirar 90 milhões de pessoas da pobreza. Mas um pacto de crescimento mundial parece mais indispensável hoje, em vista dos problemas estruturais da economia mundial e dos enormes desequilíbrios entre a produção e o consumo.

Pode parecer estranho descrever a maior crise financeira desde a década de 1930 como sintoma de um problema maior. Mas, quando os historiadores considerarem retrospectivamente a onda de globalização que se ergueu após 1990 - e trouxe dois bilhões de novos produtores para a economia mundial - encontrarão um ponto de inversão em torno de 2010. Pela primeira vez em 150 anos, o Ocidente (EUA e União Europeia), em comparação com o restante do mundo, registrou menor produção, menores exportações, menos comércio e menores investimentos.

De fato, entre o início e meados da década de 2020, o mercado consumidor asiático terá o dobro do tamanho do mercado americano. Hoje, porém, Ocidente e Ásia continuam mutuamente dependentes. Dois terços das exportações asiáticas ainda desaguam no Ocidente e o comércio sul-sul responde por cerca de 20% do volume de negócios em todo o mundo.

Dito de outra forma, há dez anos o motor econômico americano podia impulsionar a economia mundial e daqui a 10 anos, a partir de hoje, os países emergentes vão assumir esse papel, dado o poder de compra crescente de suas classes médias. Mas, por ora, EUA e Europa não podem expandir seus gastos com consumo sem aumento das exportações, ao passo que a China e os mercados emergentes não podem expandir sua produção ou consumo sem a garantia de saudáveis mercados ocidentais.

Assim, em primeiro lugar, precisamos restaurar a visão ampla de cooperação mundial contida no pacto de crescimento do G-20. Porém uma agenda mais ampla e profunda é necessária: a China deveria aceitar um aumento dos gastos por suas famílias e importações de bens de consumo; a Índia deveria abrir seus mercados para que seus pobres possam beneficiar-se de importações baratas; e a Europa e os EUA deveriam aumentar sua competitividade para aumentar suas exportações.

O G-20 também foi insistente, em 2009, em que a futura estabilidade necessitaria um novo regime financeiro mundial. David Miles, do Banco da Inglaterra (BoE, em inglês), prevê mais três crises financeiras para as duas próximas décadas. E, se Andrew Haldane, do BoE, tem razão em afirmar que as crescentes pressões na Ásia criam um risco de turbulência futura, o Ocidente irá se arrepender de sua incapacidade de consolidar os padrões mundiais de adequação de capital e de liquidez e um sistema mais transparente de alerta antecipado.

O problema já é evidente. Os passivos do setor bancário europeu já são quase cinco vezes maiores do que nos EUA, equivalentes a 345% do PIB. A alavancagem dos bancos alemães é de 32 vezes o montante de seus ativos.

Devemos nos basear nas propostas de Robert Skidelsky envolvendo um banco nacional de investimentos para equipar nossa infraestrutura - bem como nosso ambiente - para enfrentar desafios futuros e estimular o crescimento e a criação de empregos. Um modelo para isso é o Banco Europeu de Investimentos, que, com €50 bilhões de capital, foi capaz de investir €400 bilhões. Mas há, possivelmente, um acordo a ser pactuado com os chineses, sobre o investimento de suas reservas, e com as multinacionais ocidentais, sobre o tratamento tributário para lucros repatriados.

Por fim, como mostrou o economista Michael Spence, laureado com o Prêmio Nobel, crescimento é, agora, uma condição necessária, embora insuficiente, para a geração de emprego. O pacto G-20 em defesa de crescimento deve ser também um pacto pela geração de empregos.

O G-20, que representa 80% da produção mundial, revelou-se útil, em 2009, como o único organismo multilateral capaz de coordenar a política econômica mundial. Infelizmente, seus Estados membros logo abandonaram esse objetivo e partiram para soluções nacionais. Previsivelmente, tentativas de soluções individuais revelaram-se impotentes para assegurar uma recuperação econômica. Novamente, chegou a hora e a vez do G-20. Quanto mais cedo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conclamar o G-20 a atuar em conjunto, melhor será. (Tradução Sergio Blum)

Gordon Brown foi primeiro-ministro do Reino Unido. Copyright: Project Syndicate, 2011.

Nenhum comentário: