Falta de competitividade envergonha
EDITORIAL
Correio Braziliense - 12/09/2011
Dois chavões teimam em acompanhar a história do Brasil: o de que este é um país do futuro e também de contrastes. Pois embora sejamos hoje a sétima maior economia do mundo e tenhamos nos tornado a bola da vez na atração de investimentos, acabamos de ser classificados na vergonhosa 53ª posição num ranking de competitividade que incluiu 142 nações. Outro vexame é não termos uma única universidade entre as 100 melhores do planeta. Isso, apesar de estarmos no top 10 dos mais relevantes na produção de conhecimento científico e de relevância internacional. E de termos chegado praticamente ao pleno emprego, com renda em alta, mercado interno em forte expansão, instituições financeiras sólidas e economia estável.
Passa da hora, pois, de superar os atrasos e relegar ambos os chavões ao passado. Um país com o potencial de crescimento econômico do Brasil não tem por que demorar tanto para chegar ao Primeiro Mundo. A lentidão, contudo, tem explicação: não se fará tal caminhada sem dor. A elite dirigente precisa entender que o avanço implica cortar na própria carne, realizando profunda reforma política, capaz de recuperar a credibilidade da classe. A partir daí será menos complicado melhorar a gestão governamental, o que significa tratar com a devida decência os impostos recolhidos pelo cidadão. Ou seja, qualificar os gastos e os investimentos públicos, sobretudo suprindo as deficiências na educação, na saúde e na infraestrutura.
Mais bem qualificados, espera-se que os políticos não se furtem a coordenar as necessárias e sempre adiadas reformas estruturais. Uma delas, a previdenciária. O sistema não acompanhou o ganho brasileiro com o aumento da expectativa de vida. A formalização do mercado de trabalho (e aqui abre-se parênteses para lembrar a necessidade de reduzir os custos da mão de obra) não tem sido suficiente para assegurar a saúde da Previdência Social. Outra, a tributária. A carga elevada e a complexidade provocada pela grande quantidade de impostos e contribuições são embaraços à competitividade. Mais uma: a desburocratização. A intrigada legislação causa insegurança jurídica e complica tanto a abertura quanto o fechamento de empresas no país.
Falta pensar grande. Por exemplo, incentivar a pesquisa e a inovação; fazer planejamento de longo prazo, assumindo firme compromisso com programas e metas (vejam as obras para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, para citar evidências de atraso recente); dar celeridade à Justiça. O custo Brasil tira a competitividade da produção nacional também pela valorização do câmbio, mas esse até é um problema — embora importante — menor, por ser sazonal. Questões de fundo, históricas, é que não podem seguir se enraizando na cultura nacional, como a precariedade do transporte (as malhas rodoviária e ferroviária são precárias e a hidroviária praticamente inexistente), do armazenamento e dos portos; o alto custo da energia (embora a boa qualificação da matriz do ponto de vista ecológico) e outras carências de infraestrutura.
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