quarta-feira, novembro 18, 2009

RUY CASTRO

A fração do noticiário


Folha de S. Paulo - 18/11/2009

Uma enfermeira do hospital da Universidade Luterana, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, foi presa no sábado acusada de aplicar morfina em recém-nascidos. Fez isso com 11 deles na última semana. Os bebês tiveram parada respiratória e ela, "providencialmente", os reanimou, provando que era capaz de "salvar vidas". Podem não ser os únicos casos nos dois anos em que a moça trabalha lá.
Em Fortaleza, uma mulher deixou seu filho de um ano na mão de um traficante como garantia de que voltaria para pagar a pedra de crack que acabara de comprar. O bandido aceitou a criança e, até hoje, meses depois, a mãe ainda não apareceu para acertar os R$ 2 e recolher o filho. A história é recente, mas já consta de um documentário sobre a esmagadora investida do crack na capital cearense.
Também no fim de semana, em Salvador, uma estudante de 20 anos, grávida de seis meses, foi morta com um tiro no peito. A bala era para seu namorado, com quem ela estava no carro. O rapaz, que, segundo a Justiça baiana, tem antecedentes por tráfico, assalto e homicídio, levou outros dois tiros, mas não vai morrer. Os assassinos foram dois homens numa moto.
E, também em Salvador nos últimos dias, uma menina de dois anos morreu vítima de uma bala perdida, à saída de uma escolinha no bairro Tancredo Neves, quando estava no colo da mãe. Segundo a polícia, o tiro teria sido disparado por traficantes que perseguiam correndo um garoto para lhe cobrar uma dívida de droga.
Sim, eu sei, não há muito em comum entre os casos. Exceto pelo fato de que as vítimas são jovens, as mortes, violentas, há sempre uma droga legal ou ilegal na história e -talvez porque já tenham se tornado rotina- apenas uma fração desses casos chega ao noticiário.

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