Não há como compensar
O Estado de S. Paulo - 18/11/2009 |
A indústria parece ter entendido que o problema não está na valorização do real (que apenas o agrava), mas na baixa competitividade do produto brasileiro. Até recentemente, sempre que aumentaram as dificuldades para colocar o produto nacional nos mercados, o governo veio em socorro com "mais câmbio". Ou seja, a desvalorização do real vinha para compensar um problema que, a rigor, não fora devidamente atacado. Agora que a tendência à valorização da moeda é estrutural e dificilmente reversível, não há como garantir a compensação cambial do passado. O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) Mário Torós pode ser criticado por muita coisa, mas tinha razão ao sustentar que a compra agressiva de dólares pelo BC para a formação de reservas atrai ainda mais dólares para o País. O BC pode ter lá suas razões para manter e até acelerar as compras de moeda estrangeira, mas elas são boas para blindar a economia contra crises, como se viu nessa última, e não para ajudar a reverter a tendência do câmbio numa conjuntura global de desvalorização do dólar ante todos os ativos. Ainda ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurava que a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 2%, na entrada de capitais destinados às aplicações em renda fixa e variável produziu algum efeito na medida em que "reduziu a volatilidade do câmbio". Mas a desvalorização do real não foi conseguida, como observou segunda-feira o presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles. É improvável que venha a ser conseguida com providências pontuais, como as que vêm sendo tentadas pela Fazenda. O BC também tem uma pauta de medidas de flexibilização cambial, como a que autoriza os fundos de pensão a investir no exterior. Mas elas vêm na linha da modernização do câmbio e não da desvalorização do real. O Brasil fez a opção histórica de montar seu sistema econômico com um baixo índice de poupança, de 16% ou 17% do PIB, mais baixo que o padrão asiático (de 33%) e mais ainda que o chinês (de 44%). Isso significa que depende da poupança externa e, nessas condições, não pode dar-se ao luxo, como a China, de ter uma política ativa de câmbio. A baixa competitividade do produto nacional, que se agrava num momento em que o dólar se desvaloriza globalmente, não pode ser resolvida com "políticas compensatórias", como ontem pedia equivocadamente o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Não há nada a compensar, como se fazia no passado. O que se pode e se deve fazer é reduzir o custo Brasil por meio da redução da carga tributária, redução dos juros na ponta do crédito, forte investimento em infraestrutura, melhora do sistema de ensino e agilização do sistema judiciário, dentro do que foi reivindicado pelo presidente da CNI. Mas isso exige forte austeridade das contas públicas, o que contraria a gastança que temos aí.
Confira Cai a ficha - Aumenta a percepção de que não há saída fácil. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, advertiu ontem que "o câmbio não pode ser enxergado como solução sebastiana para o comércio exterior". E pediu redução do custo Brasil. O ex-diretor de Política Internacional do BC Demosthenes de Pinho Neto foi na mesma direção: "Não vejo mágica para impedir a valorização do real." E o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, admitiu que "o desafio do câmbio não será encontrado nos manuais". |
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