Há cada vez mais indícios de que o tom belicoso de Hugo Chávez em relação à Colômbia tenha motivos mais próximos dele do que da cessão aos EUA de sete bases em território colombiano pelo governo Uribe. Trata-se de recorrer a uma ameaça externa para relativizar problemas que já corroem a duradoura popularidade do caudilho.
A Venezuela está sob racionamento de água desde o dia 2, e sofre constantes apagões. Na capital, segundo o jornal espanhol “El Pais”, cada bairro fica sem água pelo menos dois dias da semana. São frequentes os cortes de energia durante quatro horas a cada noite. Segundo pesquisa da empresa venezuelana Datanálisis, 66% dos entrevistados se disseram totalmente insatisfeitos com a gestão da crise por Chávez; 70% criticaram suas políticas para criar empregos; e 87% acharam que o governo não faz o suficiente para combater a criminalidade — Caracas é a cidade mais violenta da América Latina.
Outro dado relevante da pesquisa: oito em cada dez venezuelanos rechaçaram a possibilidade de um conflito militar com a Colômbia, o que mostra que o apelo de Chávez ao nacionalismo não parece estar funcionando.
As más notícias na economia venezuelana não dão trégua: uma alta fonte do governo disse que o PIB do país encolheu 4,5% no terceiro trimestre do ano em relação a 2008, contra queda de 2,4% no segundo, configurando uma recessão. A corrupção campeia: a Transparência Internacional incluiu o país entre os quatro mais corruptos da região.
Diante disso, Chávez tenta transformar um incidente no qual morreram dois guardas venezuelanos, e que parece ter mais a ver com o crime organizado e o tráfico de drogas na fronteira com a Colômbia, num pretexto bélico. Para manter a chama do nacionalismo acesa acima dos apagões, o líder bolivariano rejeitou proposta do Brasil para criação de um sistema venezuelano-colombiano com o objetivo de monitorar a fronteira comum de 2 mil quilômetros. Para isso, recorreu a uma de suas frases bombásticas: “(A fronteira) é tema de soberania, e soberania não se discute!” Entrevistado pelo GLOBO, o jornalista e escritor colombiano Ecchehomo Cetina, autor de “O tesouro — uma história de roubo nas Farc”, comentou: “Historicamente, presidentes administram os problemas de Colômbia e Venezuela declarando guerra ao vizinho.” É esse Chávez divisivo e beligerante que quer um lugar para a Venezuela no Mercosul. Para obtê-lo, depende apenas de aprovação no Senado brasileiro e no do Paraguai. O chanceler paraguaio, Héctor Laconagta, resumiu: Chávez “tem um discurso de confronto, criando um clima pouco propício para a integração regional”. Os senadores brasileiros devem pensar nisso. |
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