É certo bater palmas para a destruição de 7 mil quilômetros quadrados da mais importante floresta tropical do mundo? No Brasil, infelizmente, é.
Sete mil quilômetros quadrados é quase cinco vezes a área da cidade de São Paulo - que não é pequena -, mas, ainda assim, muito menos do que os 17.500 km² que se desmatou por ano, em média, nas últimas duas décadas. Essa é a realidade da Amazônia brasileira.
Mas bater palmas para quem? Essa é a pergunta que não quer calar toda vez que se anuncia uma redução do desmatamento. Mérito do governo? Ou reflexo do mercado?
Seria ingenuidade achar que a crise econômica mundial não contribuiu - talvez em grande escala - para essa redução espantosa. Vários estudos já mostraram que o ritmo de destruição da floresta mantém relações íntimas com o rebolado dos mercados internacionais de carne, soja e outras commodities, já que a maior parte das derrubadas tem como finalidade abrir terras para pastos e plantações.
Por outro lado, é preciso dar mérito ao governo. As ações de polícia e política colocadas em prática nos últimos anos podem não ter sido 100% eficazes, mas pelo menos quebrou-se aquela sensação de impunidade total que reinava na floresta. A atuação do Inpe foi decisiva, produzindo as estatísticas, mapas e análises necessárias para o planejamento dessas ações.
Os desmatadores sabem que há um satélite no espaço olhando para eles, e isso mete muito mais medo do que um fiscal do Ibama. Outro fator positivo foi o engajamento do setor privado, que em muitos casos passou de inimigo a aliado da conservação. Os motivos para "mudar de time" podem ser questionáveis, mas os resultados são bem-vindos de qualquer maneira. Soja e carne produzidas à custa da destruição da floresta não são mais bem vistas no mercado.
Já a floresta "em pé" - e não só deitada - começa finalmente a ser vista como algo de valor. A criação do Fundo Amazônia e as expectativas sobre inclusão de florestas no mercado de carbono abrem novas perspectivas econômicas para quem deixar de desmatar. O Brasil tem de provar agora que salvar a Amazônia é um bom negócio e que é capaz de proteger esse investimento a longo prazo.
André Lima, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, resume bem: "O desmatamento cai, mas a responsabilidade do Brasil aumenta". |
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