A cada mês surgem novos sinais de deterioração das contas públicas; país desperdiça chances seguidas de arrumar sua economia
Já deixou de ser novidade para se consagrar como tendência do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). A cada mês surgem novos dados que mostram a constante deterioração das contas públicas.
Em junho, houve deficit primário (a soma de receitas e despesas antes do pagamento de juros da dívida) de R$ 2,1 bilhões. Melhor que o rombo de maio, R$ 11 bilhões, mas ainda assim negativo. Com isso, o saldo positivo do primeiro semestre ficou em R$ 29,4 bilhões, menos de um terço da meta para o ano (R$ 99 bilhões, ou 1,9% do PIB). É o pior resultado desde 2000.
Com o país à beira da recessão, a arrecadação de impostos patina. Enquanto isso, as despesas crescem de forma acelerada. Para o governo fechar as contas, sobraram as receitas não recorrentes --espera-se uma nova rodada de refinanciamento de dívidas de empresas e um bom dinheiro com o leilão de 4G na área de telefonia.
O problema é agravado pela tentativa de escondê-lo. Disfarça-se o tamanho do buraco com seguidas camadas de contabilidade criativa: despesas recorrentes são adiadas para o mês seguinte e repasses obrigatórios ficam retidos --suspeita-se que até o pagamento de aposentadorias comece a ser gerenciado com tal propósito.
O governo federal não engana ninguém. Há um exército de analistas para desfazer a ilusão. O único resultado que colhe é a deterioração de sua própria credibilidade, já em níveis típicos das crises.
Em 2009, no auge do colapso financeiro mundial, o aumento de despesas foi justificado pelo combate ao risco de recessão. O contexto mudou, mas a gestão Dilma não percebeu. A partir de 2010/2011, o recomendável teria sido baixar os juros e diminuir os gastos.
Uma nova janela se abriu com a crise europeia, dando a chance de consolidar taxas menores em 2012. A letargia do crescimento, porém, levou o governo ao pânico --afinal, já se pensava na eleição deste ano-- e, desde então, todas as amarras das contas foram soltas.
O Planalto embarcou em uma aventura temerária de expansão de gastos, créditos subsidiados e garantias do Tesouro cujo custo ainda não é plenamente conhecido.
O conjunto da obra é o pior possível: uma economia que derrapa, com juros e inflação em alta, além de um Orçamento estourado e uma dívida pública crescente, fazendo aumentar a percepção de risco de emprestar ao Brasil.
Neste ano, os juros internacionais permaneceram baixos, com o que o país ganhou tempo para arrumar seu quintal. Infelizmente, não há sinal de que tal oportunidade esteja sendo aproveitada.
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