Ante a iminência de o governador Geraldo Alckmin ganhar a eleição no primeiro turno e prejudicar a já complicada situação da presidente Dilma Rousseff em São Paulo, foi estabelecido um cessar fogo entre PT e PMDB no maior colégio eleitoral do País.
Nada escrito nem formalizado, mas um acerto tácito com base na evidência de que o estica e puxa entre as campanhas de Paulo Skaf e Alexandre Padilha em torno da resistência do pemedebista em apoiar Dilma e da insistência dos petistas em obrigá-lo a abrir espaço para a presidente só tende a favorecer ainda mais o adversário de fato, o PSDB.
A avaliação do vice-presidente, segundo interlocutores, é a de que não haverá chance de ocorrer um segundo turno em São Paulo se os dois partidos não se unirem na tentativa de reduzir as intenções de voto de Alckmin, hoje em 50%.
Temer não analisa o quadro baseado em pesquisas, mas na política: não são poucos os prefeitos e as lideranças do PMDB que já querem se bandear para o lado do presumido vencedor. Se acontecer, a oposição ganha reforço para as candidaturas presidenciais de Aécio Neves e até de Eduardo Campos, pois o PSB está na vice de Alckmin.
O ambiente de briga aliado à queda de Skaf nas pesquisas só estimula esse movimento de migração e dificulta o trabalho de contenção. O candidato do PMDB já chegou a ter 21% das intenções de voto no mês de junho; agora está com 10%.
A temperatura entre os dois partidos chegou ao ponto de fervura na semana passada quando, diante da resistência de Skaf e de mais alguns dirigentes do PMDB regional em apoiar Dilma por causa da rejeição dela no Estado, o PT reagiu com faca nos dentes.
Circularam notícias de que poderia haver uma intervenção do PMDB nacional e que Michel Temer estaria pronto para enquadrar Skaf, obrigando-o a declarar-se cabo eleitoral da presidente.
Era um exagero ou precipitação. Temer preferiu fazer as coisas ao seu modo, contornando os obstáculos sem gestos impositivos, de forma a não deixar o candidato em situação de constrangimento diante do eleitorado.
Na quinta-feira Temer teve uma conversa séria com o candidato em que expôs os argumentos pelos quais seria altamente desvantajoso para ele mesmo e para o grupo político como um todo tratar o PT como inimigo.
"O PT é um concorrente na disputa, mas não um adversário", disse Temer, aconselhando Skaf a não levar em conta só as ponderações do marqueteiro, mas observar com atenção o cenário político.
E o quadro, na opinião dele, agora aponta para a necessidade de se construir uma chance de haver segundo turno. Se for eleito no primeiro, Geraldo Alckmin mais a tropa do PSDB e aliados em São Paulo estarão livres para trabalhar contra Dilma Rousseff.
Ficou, portanto, acertado o seguinte: o PMDB em São Paulo não abraça, mas também não afasta a candidatura da presidente. Ela não precisa ser o eixo da campanha de Skaf. Ao contrário, o ponto central do candidato será o Estado, a população e seus problemas; transportes, segurança, abastecimento de água e tudo o que afeta o dia a dia do cidadão.
Skaf não está obrigado a falar na presidente. Mas também não deverá renegá-la. A tarefa de fazer menção a ela e pontuar a "boa relação" do partido com o governo federal ficará com Michel Temer.
Em contrapartida, o PT para de cobrar do candidato do PMDB uma posição mais explícita; esse papel no plano estadual é do petista Alexandre Padilha.
Moral da história: o combinado não sai caro.
Lição do abismo. Do caso do aeroporto construído em terras da família Neves, fica ao senador Aécio a seguinte constatação: não cabe ao candidato a presidente julgar o que seja relevante ou não; a ele cabe responder com clareza, e presteza, o que lhe é perguntado.
Ou então questões irrelevantes acabam se tornando absolutamente desgastantes.
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