A África Ocidental, uma das regiões mais pobres do mundo, enfrenta o pior surto de ebola desde que esse vírus extremamente letal foi descoberto, em 1976. A debilidade institucional dos países afetados impõe à comunidade internacional o dever de acompanhar de perto a crise, tanto para debelá-la como para evitar sua propagação.
Na sexta-feira (1º), a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o vírus continua se espalhando em velocidade maior do que os esforços para contê-lo e alertou para possíveis consequências catastróficas em termos de vidas humanas e impacto socioeconômico.
Das cerca de 1.300 pessoas infectadas, ao menos 729 morreram, o que torna este o surto mais mortífero entre os cinco registrados.
O ebola vem provocando mortes na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria, vizinhos entre si. Mas um caso já foi notificado na Nigéria, o país mais populoso da África (177 milhões de habitantes).
A situação é particularmente dramática dada a profunda desconfiança das populações locais em relação a seus governos, que ademais enfrentam deficit de funcionários e de material médico.
Não se descarta uma subnotificação de casos. Em áreas com alta incidência do vírus, como o leste de Serra Leoa, familiares de pessoas mortas com sintomas da doença escondem os corpos e fazem enterros sem os cuidados devidos. Surgem boatos de que o governo esteja disseminando o ebola.
A falta de colaboração contribui para o alastramento do vírus, que passa de uma pessoa a outra por meio de sangue, secreções e outros fluidos. Um homem pode transmiti-lo pelo sêmen até sete semanas após ter sobrevivido à doença.
Dadas as circunstâncias, é essencial que a OMS aumente seu protagonismo. Nesse sentido, foi um bom sinal a criação, na última quinta-feira, de um fundo de US$ 100 milhões para financiar a oferta de agentes de saúde e o aprimoramento dos controles fronteiriços.
Por ora, a única notícia alvissareira quanto ao futuro vem dos EUA, onde a crise acelerou as pesquisas para uma vacina. Se tudo ocorrer dentro do previsto, a imunização estará disponível em 2015 para trabalhadores de saúde e outros grupos de alto risco.
Vários países, enquanto isso, adotam medidas preventivas. No Brasil, aumentou o rigor em portos e aeroportos na identificação de eventuais portadores do vírus.
Não se trata de uma crise localizada. O fato de já ter atingido três países, as dificuldades estruturais dos governos e as características do ebola justificam o alarme da OMS. Quanto mais célere a reação internacional, melhor.
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