segunda-feira, agosto 04, 2014

Elefante desgovernado - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 04/08


SÃO PAULO - No segundo livro do "Fausto", Goethe apresenta logo no ato inicial uma rica alegoria do governo. Ele figura como um elefante peculiar, que desfila no cortejo carnavalesco do palácio imperial.

Sentada no pescoço do bicho, a conduzi-lo, vai a Prudência. Ao lado caminham dois seres acorrentados, a Esperança e o Medo. No lombo do paquiderme, de pé e com as asas abertas, desfila a Vitória.

O Medo é paranoico, em tudo enxerga conspiração e malícia. A Esperança, ao avesso, é de uma ingenuidade extrema. A Prudência regozija-se de os ter posto a ferros. São "dos piores inimigos do homem". E assim o bom governo pode seguir, "passo a passo, calmo e rijo".

No elefante da política externa brasileira, não está montada a Prudência. Medo e Esperança estão soltos, a disputar o controle do animal. A Vitória despencou.

A nota do governo Rousseff que condena as centenas de mortes de civis causadas por Israel em Gaza sem criticar o terror homicida do Hamas é um rebento recente daquela desarmonia. Não é o único em quase 12 anos de gestão petista.

Na Presidência, Lula deu declarações pusilânimes a favor do regime iraniano, que reprimiu barbaramente manifestantes em 2009. Fez troça dos opositores que apanhavam, eram presos e morriam, ao comparar o acontecimento com uma rivalidade entre torcidas de futebol.

Sob Dilma, o Itamaraty escreveu uma página lamentável de sua história ao desprezar a deposição constitucional do aliado Fernando Lugo, no Paraguai. Suspendeu o país do Mercosul e incluiu a Venezuela chavista, à revelia de Assunção.

O temor dos "ianques" e de outras potências democráticas serve de guia. A seu lado, a candura de acreditar que "outro mundo é possível" tendo como aliados a ditadura chinesa, o autoritarismo russo, o totalitarismo islâmico e o populismo latino-americano faz o elefante serpentear.

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