O GLOBO - 04/08
O Brasil errou ao retirar o embaixador de Israel. Israel errou ao usar de preconceito para nos ofender. Mas como a diplomacia brasileira repetiu, para se defender, a comparação ofensiva que recebeu da chancelaria israelense, atrás da cortina não há mais nada para se ver. Usar um atributo físico para desqualificar uma pessoa é a mais pura linguagem fascista; repetir a frase da ofensa como parte da defesa escapa da área do cérebro onde se situa a inteligência.
A guerra é sempre a mais absurda forma em que a política quer dispor da vida. A que se arrasta entre Israel e Palestina é, ao mesmo tempo, a guerra do errado e o errado, do certo e o certo. É impulsionada, dos dois lados da fronteira surda, pelo fanatismo que transformou a região em um campo de refugiados judeus, expulsos da Europa, e palestinos, rejeitados pelo mundo árabe. Dois irmãos, que chegaram ali para ficar e, como povos, estão muito à frente dos seus líderes e dos líderes mundiais que os apoiam.
Uma boa cerca faz bons vizinhos, diz um poeta palestino; do lugar de onde temos razão não nascem flores na primavera, concorda seu colega israelense. Os dois são vítimas de um mesmo opressor, que é o fanatismo. Não há ali guerra civil e de reis como as travadas por mais de mil anos pelos povos e países da Europa. Menos ainda o monstro colonial que humilhou por mais de quinhentos anos a América e a Ásia.
Nem as aberrações tribais que consomem a África até hoje. Trata-se de um conflito internacional cuja solução deve ser negociada por todo mundo onde existam líderes moderados, que acreditem no poder da contenção, com superioridade moral para não precisarem ser pró-Palestina ou Pró-Israel, mas sim a favor da paz.
Especialmente porque criticar a assimetria de qualquer conflito onde existem durões e operações com mártires de ambos os lados não é nada ordinário ou extraordinário. Basta não ter paciência para o ir e vir das dificuldades, recomeços e revezes da luta na região. Tomando a água da superfície e muito preocupada com o êxtase do noticiário, a diplomacia nessa área de conflito funciona como uma comunidade fechada onde embaixadores formam clubes, de costas para inocentes e temperamentos pacíficos.
E nada ajudam por não perceber que muitas vezes os dois lados ali sabem muito bem como obter do outro o tipo de reação que serve ao objetivo para dar o passo além e destroçar qualquer possibilidade de diálogo ou discussão racional.
É duro não se darem conta que um poder militar tenha muita dificuldade de definir seus objetivos quando quer buscar legitimidade para eles. Mas que pode muito bem reforçar seus erros se ajudados por desinformados pacifistas que cometem o erro maior de desistir do diálogo e se fazerem espiritualmente inúteis.
Não há Ghandis naquele conflito. Deixar que a dor ou a revolta determine a forma de agir é mais do mesmo. Ao retirar o embaixador de Israel, o Brasil abandonou sua responsabilidade. Como mais um fanático certo de que a indignação que sente confere razão à forma de reagir aos atos que condena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário