Mundo rico demora para decolar, Europa ainda no vermelho pode regredir: isso afeta o Brasil
O MUNDO RICO enfim olharia a Grande Recessão pelas costas neste ano de 2014. Pelo menos era a conversa que se ouvia até o início do ano. Ainda se ouve, aliás. Na prática, porém, os radares meteorológicos do mercado parecem registrar uma frente fria.
Essa história parece tediosa. Mas tudo isso acaba batendo aqui na província do Brasilzinho. Convém prestar atenção.
Por que há nervosismo com a deflação na Europa? Por que há ansiedade com a China? Por que os juros estão baixinhos na praça americana, sinal de que os rapazes do mercado ainda não acreditam mesmo na anunciada recuperação mais forte anunciada dos Estados Unidos?
A conversa sobre o risco de deflação na eurozona está cada vez mais barulhenta. A inflação anual até março foi de 0,5%. Deflação é sintoma de atividade econômica muito fraca. Pode ser um desastre, como o foi no Japão. Significa que há desemprego demais, que a renda não sobe, ao passo que as dívidas a serem pagas continuam firmes e fortes, crescendo pelo menos à taxa de juros combinada. No limite, deflação, preços em baixa, causa recessão.
O banco central e a finança europeias discutem se e quando implantar uma política monetária à moda americana. Isto é, de um modo ou outro, o Banco Central Europeu "injetaria dinheiro na economia" (comprando dívida privada, por exemplo).
Como a gente não ouve mais notícias de catástrofes operísticas na Europa, parece que o problema estaria se resolvendo por lá. Há desastres, na verdade. Mas, como é o couro do povo que está sendo esfolado, e não o da finança, o noticiário arrefeceu.
A fim de sair da crise, as autoridades econômicas europeias, a contragosto, fizeram vários remendos e, com gosto, cobraram a conta do povaréu, com desemprego horrendo. Mas, grosso modo, continuaram a empurrar a coisa com a barriga para ver se o clima melhoraria, as poupando de mais medidas drásticas.
No conjunto, a eurozona está longe de sair do buraco onde caiu em 2008. A renda média (PIB per capita) ainda é 3,5% MENOR que em 2007. Na Itália, a economia está 11% menor, em termos per capita. Na Grécia, 22%. Na França, 2%. Na Espanha, 8%. Dados os prognósticos de crescimento, a eurozona voltaria ao azul apenas em 2017. Uma década perdida.
A especulação sobre o despejo europeu de dinheiro na praça ajudou a inflar de novo o preço de ativos financeiros pelo mundo, entre os "emergentes" inclusive. A ideia de que a economia americana ainda não engatou a segunda marcha alimenta a especulação de que as autoridades dos EUA também não vão elevar juro tão cedo. A festinha no mercado continua, pois; preços de ações, títulos e commodities voltam a subir. A "calmaria" no Brasil tem a ver com essa especulação revivida.
Ainda assim, há gente nervosa. A China cresceu "pouco", 7,4% anualizados, neste início do ano, na meta do governo deles. Mas há nervosismo maior com um possível excesso de aperto monetário.
A inflação chinesa baixa. Pouco dinheiro na praça, aperto monetário, pode propiciar quebras, calotes financeiros etc. A fim de evitar tal coisa, a China teria de afrouxar o crédito, desvalorizar a moeda.
O mundo ainda é um lugar perigoso para o Brasil, que mal sabe cuidar de si, de resto.
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