O Estado de S.Paulo - 25/04
Na madrugada de terça-feira, cinco homens armados renderam vigias, invadiram a garagem da Urubupungá, empresa que transporta passageiros entre Osasco e a capital, mandaram que os rendidos jogassem gasolina num ônibus e atearam fogo, que logo se alastrou por mais 33 veículos. Um funcionário relatou que foi forçado a ficar dentro do ônibus incendiado e só foi autorizado a sair quando as chamas tinham se espalhado pelo veículo: foi ferido no braço. Dos ônibus, 23 tiveram perda total e 11 foram parcialmente danificados. Conforme a empresa, sua frota não está amparada por seguro e os veículos parcialmente destruídos deverão ser recuperados entre quatro e cinco meses. O prejuízo calculado é de R$ 10 milhões.
A polícia suspeita de que o ataque esteja ligado ao tráfico de drogas. O atentado teria sido uma forma de vingança pela morte de Edmilson Silva, 19 anos, assassinado pouco antes com 24 tiros numa praça tida como um dos principais pontos de venda de drogas da cidade. Segundo o delegado seccional de Osasco, Paulo Tucci, as investigações iniciais indicam que o assassinato ocorreu em meio a uma disputa de traficantes: o assassinado e seu irmão gêmeo, Edilson, acusado de haver participado do ataque, tinham passagem pela polícia na adolescência, acusados de tráfico de drogas. Reconhecido por testemunhas e flagrado participando da violência por câmeras de segurança com quatro comparsas, ele foi preso acusado de incêndio doloso, formação de quadrilha, dano ao patrimônio e lesão corporal.
O ataque à garagem da Urubupungá, que presta serviços à prefeitura, prejudicou a circulação em 21 linhas de ônibus da zona norte de Osasco, de vez que o incêndio tirou das ruas 29 dos 171 veículos nelas utilizados. Segundo a empresa, 20 mil passageiros tiveram sua rotina afetada pelo atentado.
É mais um episódio na maior região metropolitana do País a mostrar que, ao contrário do que pregam sociólogos politicamente corretos que atribuem a violência do tipo apenas a disparidades sociais, as vítimas preferenciais de desordeiros na periferia são pessoas pobres. Tanto de forma direta em chacinas em bares e assaltos em ruas pouco iluminadas quanto, como se constata neste caso, de forma indireta. Viajando sem comodidade em ônibus de uma frota sucateada, o trabalhador que depende de transporte coletivo para se deslocar de casa para o trabalho é o primeiro e maior prejudicado por atentados como o de Osasco. Bandidos que queimam ônibus não podem, então, ser considerados heróis populares. São, sim, carrascos, que tornam ainda mais penoso o cotidiano de cidadãos honestos que dão duro para viver em condições precárias, mas honestamente.
O episódio está longe de ser singular. No noticiário sobre o caso, o Estado contou 115 coletivos incendiados este ano na Grande São Paulo, segundo dados da São Paulo Transportes (SPTrans), que administra o transporte coletivo municipal na capital, e a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (Emtu), responsável pela condução entre os municípios da região metropolitana. Em todos os casos, a violência foi iniciada por retaliações fúteis sem relação com transportes.
O ataque à garagem da Urubupungá chama a atenção da opinião pública mais uma vez pela incapacidade da autoridade policial do Estado de São Paulo em combater esse gênero de criminalidade, que afeta a vida das cidades paulistas de forma brutal. A polícia nega que os ataques obedeçam a algum esquema estratégico e, por isso, elimina a hipótese de que estejam sendo comandados por grupos do crime organizado, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Não se sabe o que levou as autoridades a tal conclusão, de vez que, apesar de a modalidade já ter atingido a categoria de endêmica, elas nada podem afirmar ou informar sobre quem a pratica. O suspeito preso na terça-feira é uma exceção, pois normalmente a polícia nem sequer identifica quem adota tais práticas. Já passou da hora de o governo paulista dar satisfações à população prejudicada e anunciar medidas eficazes para coibir essa onda de crimes.
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