O Estado de S.Paulo - 25/04
Quando era embaixador do Brasil em Londres, durante o governo Geisel, Roberto Campos recebeu em seu gabinete o então embaixador do Brasil em Paris, o ex-ministro Delfim Netto. A imprensa quis saber o que afinal os dois campeões da economia do governo militar tinham tratado. "Apenas combinamos nossas mentiras para que a gente fale a mesma coisa", disse o embaixador, em meio a gostosas gargalhadas.
No dia 8 de abril, o ex-presidente Lula sentenciou que "o governo não pode admitir as mentiras sobre a Petrobrás; tem de ir pra cima". E concluiu: "Temos de defender os fatos que acreditamos serem verdadeiros". Mas Lula não se atreveu a adiantar os fatos verdadeiros em que acredita, talvez porque ninguém da turma fale coisa com coisa. São depoimentos e orientações contraditórios, feitos por pessoas que ocupam cargos do mesmo governo e que partilham a mesma estrela vermelha do PT.
No caso da Refinaria de Pasadena, o governo não consegue combinar nem verdades nem mentiras. A presidente Dilma disse, por escrito, que, se o Conselho de Administração que ela presidia em 2006 conhecesse todas as cláusulas do contrato, não o teria aprovado. Ou seja, para a presidente Dilma, já naquela época, a compra foi lesiva à Petrobrás.
No entanto, o então diretor da Área Internacional, Nestor Cerveró, disse dia 16 de abril, no Congresso, que essas cláusulas "são irrelevantes". Se são irrelevantes, poderiam não figurar no contrato. E, no entanto, foram responsáveis pelos prejuízos seguintes.
A atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, foi clara, também em depoimento no Congresso: "A compra de Pasadena não foi um bom negócio". Mas o então presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse há cinco dias que, à época, o negócio parecia bom, depois deixou de ser e agora voltou a ser.
São declarações que, decididamente, não combinam entre si e não explicam por que o mesmo ativo, que o grupo belga Astra comprou por US$ 360 milhões (segundo outras versões, foi por apenas US$ 42,5 milhões) saiu para a Petrobrás por US$ 1,25 bilhão.
O rombo do setor energético é outra caixa-preta de proporções avassaladoras. No dia 13 de março, o ministro Guido Mantega garantia que a conta extra da energia elétrica em consequência de graves erros estratégicos do governo e também da falta de chuvas não passava de R$ 12 bilhões. O Tesouro arcaria com uma despesa adicional de R$ 4 bilhões, além dos R$ 8 bilhões já previstos no Orçamento da União; e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) se encarregaria de contratar empréstimos de R$ 8 bilhões a serem repassados às concessionárias e que, depois, cobrariam dos consumidores.
Em semanas, esse empréstimo, fechado em condições técnicas pouco claras, saltou para R$ 11,2 bilhões. Foi imposto não só aos bancos, mas, também, à própria CCEE. Quarta-feira, três dos cinco membros do Conselho de Administração da CCEE pediram demissão. Eles reprovam a operação porque temem o calote. Foi mais um ato de rebeldia dos que espocam dentro da burocracia federal. (Outra rebeldia é a do pessoal do IBGE.)
Se essas coisas acontecem na área energética que a presidente Dilma garante entender a fundo, imagine-se o que não deve acontecer nas áreas que ela entende menos.
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