O Estado de S.Paulo - 08/04
Vamos ser francos: em se tratando de projeto de poder do PT a presidente Dilma Rousseff não tem muito querer. Tal afirmação contraria opinião geral de que, se o ex-presidente Luiz Inácio da Silva resolvesse disputar uma volta ao cargo agora, teria nela o principal obstáculo, mas reflete uma realidade partidária.
Candidatos são escolhidos por partidos. No PT quem manda no movimento das marés é Lula. Dilma ali não tem voz ativa. Da mesma forma como foi imposta poderia, em tese, ser posta de lado caso viesse a representar uma ameaça concreta de retorno dos petistas à planície depois de 12 anos de Planalto.
A troca em si não seria complicada do ponto de vista da relação dos dois, deles com o partido e dos termos do contrato que fez de Dilma candidata em 2010. Lula fez, Lula desfaria e ela diria que já havia dado sua contribuição, precisaria cuidar da saúde e da família. Sairia como entrou, sem compromissos anteriores nem posteriores com a política.
Problemática, contudo, é a política, suas variáveis e variantes. Pela legislação, um partido pode trocar de candidato até 10 dias antes da eleição. Mas esse é só o tempo do calendário. O tempo político para a substituição, segundo gente experiente no ramo, seria mesmo o prazo da escolha em convenção. Vale dizer, final de junho.
Nesses menos de três meses seria necessário avaliar com precisão se a presidente Dilma estaria mesmo descartada como candidata competitiva - ou antes, se estaria previamente derrotada. Só nesse caso, se o PT estivesse mesmo diante da hipótese real de perder, é que valeria o risco de manobra tão radical.
Movimento arriscado, sim. A troca equivale a uma confissão de fracasso; fracasso pessoal de Lula, erro de pessoa cometido por ele. Outro fator: nada é garantido numa eleição. E se, numa hipótese remota, ele perder? E se ganhar e tiver, como previsto, um governo de dificuldades que não permitam chegar nem perto dos 80% de popularidade com que terminou o segundo mandato?
De outro lado: e se as coisas piorarem agora para o governo, mas mais à frente melhorarem, os candidatos de oposição não conseguirem decolar e Dilma ganhar sem a necessidade de "gastar" o trunfo Lula?
Convenhamos, não é uma decisão fácil. E uma operação de difícil execução.
Troca de guarda. Para os donos do dinheiro - sejam eles da área de finanças, da indústria, do comércio ou da agricultura - o nome do jogo eleitoral é "alternância".
Fonte de inspiração dos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos quando dizem frases como "já deu o que tinha que dar", ou sentido equivalente, referindo-se a gestões petistas em geral e ao governo Dilma em particular.
No osso. Foi-se o tempo em que o PT podia ignorar denúncias e ganhar tempo falando em conspirações dos opositores. Às vésperas do início efetivo da campanha eleitoral, acossado por uma série de notícias negativas originadas no próprio campo governista, o partido não tem mais gordura para queimar.
Daí a decisão, rápida para os padrões vigentes, do deputado André Vargas se licenciar da Câmara por 60 dias. Com Dilma em queda nas pesquisas, o governo fazendo de tudo e mais um pouco para evitar que se investigue a Petrobrás, a base dita aliada saboreando o prato frio da vingança, tudo o que o PT não precisa é de uma causa indefensável para defender.
Os diálogos gravados pela Polícia Federal em que Vargas e o doleiro Alberto Yousseff falam na construção de independência financeira mediante negócios com o governo deixam o petista numa situação muito parecida com a que levou à cassação do mandato do então senador Demóstenes Torres, devido às relações público-privadas com Carlos Cachoeira.
A ideia é que, com André Vargas fora de cena, as cobranças e o escândalo arrefeçam.
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