O GLOBO - 08/04
O déficit do setor industrial brasileiro acumulado atingiu a incrível marca de US$ 476 bilhões desde 2007. É um buraco que se amplia a cada ano. As exportações de manufaturados estão estagnadas e houve um forte aumento das importações. Este ano, há um agravante a mais: a crise na Argentina produziu uma queda de 32% nas vendas externas de automóveis no primeiro trimestre.
O mais importante no comércio exterior não é olhar o resultado setorial, mas sim a corrente de comércio. Até porque nenhum país é bom em tudo e sempre haverá um setor com déficit. O problema é que o volume total de vendas e compras do Brasil está estagnado e o rombo da indústria tem crescido de forma alarmante. A dinâmica é tão forte que é inevitável ver os dados e pensar sobre eles.
Desde 2007, as importações estão maiores que as exportações. O que impressiona é a rapidez de crescimento desse rombo, que saiu de US$ 9,2 bi, em 2007, para US$ 103 bilhões em 2013. No primeiro tri deste ano, mais US$ 28 bi no vermelho. Somado, o déficit chega a US$ 476 bilhões.
— Esse é o tamanho da demanda que o país perdeu em poucos anos. Produtos que deixaram de ser feitos aqui para serem produzidos lá fora — disse o economista Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O governo atendeu a vários pedidos da indústria: aumentou barreiras comerciais, fez esforço para desvalorizar o câmbio, deu crédito subsidiado para estimular investimentos e as exportações. As medidas foram todas paliativas. O Custo Brasil pesa muito e tira competitividade do produto manufaturado. A infraestrutura é deficiente, a carga tributária é crescente, a inflação de custos aumenta e os juros encarecem os financiamentos.
Este ano, explica Flávio Castelo Branco, há ainda a conjuntura desfavorável. A crise cambial na Argentina está afetando as nossas exportações. E o Brasil precisa da Argentina: cerca de 75% dos automóveis exportados pelo Brasil vão para o país vizinho. A queda de 32% nas vendas externas de carros no primeiro trimestre, dado divulgado pela Anfavea na última sexta-feira, é preocupante. O presidente da entidade Luiz Moan, acredita que o pior momento já tenha passado porque a safra agrícola argentina começará a ser colhida e mais dólares entrarão no país.
— O governo brasileiro está conversando com o argentino para destravar o comércio. A exportação da safra agrícola vai amenizar um pouco o problema cambial — disse Moan.
É duvidoso que isso resolva o problema, porque o Banco Central brasileiro teria que ser o fiador desse comércio. Isso faria com que o BC corresse o risco cambial. O país vizinho está isolado da economia internacional e isso traz implicações também para o Brasil.
A queda das exportações e o desaquecimento das vendas internas elevaram os estoques de veículos para 48 dias em março. É o maior nível desde 2008. Castelo Branco afirma que o indicador de estoques da CNI, que apura toda a indústria, também está elevado. Ou seja, os dados industriais mais fortes em janeiro e fevereiro devem vir mais fracos a partir de março.
— O mês de março deve ser negativo para a indústria. Os estoques subiram e haverá também um efeito calendário. O carnaval este ano foi em março, e no ano passado foi em fevereiro. Então, em 2014, março será mais fraco — disse.
O problema ficou deste tamanho porque o país tem adiado o que deveria estar sendo enfrentado há vários anos: a perda da competitividade.
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