quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Sinais de alerta - SÉRGIO DA COSTA FRANCO

ZERO HORA - 05/02

As metas fixadas para elevação dos preços têm sido invariavelmente ultrapassadas



Estávamos no último ano do segundo quatriênio de Lula, quando já se aprontava o tapete vermelho para a eleição de Dilma Rousseff. Cultivavam-se orçamentos generosos, gastança fácil, créditos largos no sistema bancário. Escrevemos, então, um comentário sob o título de “Memória da inflação”, relembrando, para quem não lembrava, a época desastrosa que precedeu o salvador e benemérito Plano Real, de 1994.
E dado que hoje se divulga que tivemos, em 2013, o menor superávit primário dos últimos 12 anos, além de outras notícias menos animadoras, preciso resistir à tentação de reeditar aquele artigo, em que lembrei as taxas inflacionárias de 90% ao mês e aquela fantástica taxa anual de 2.400% ao ano, registrada em 1993. Os sucessivos planos governamentais de combate à inflação haviam naufragado: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Collor… Os salários murchavam antes do dia 15, ninguém investia em qualquer negócio de resultado previsível, e a maquininha de maior utilização era a de remarcar os preços de varejo nos mercados. Nós a tínhamos quase esquecido, mas ela está voltando, mui ativa, na mão dos servidores dos supermercados. Os economistas daquele tempo conversavam muito, faziam prognósticos e diagnósticos (lembram daquela senhora Zélia Cardoso de Melo que foi ministra?), mas os cidadãos, já com as poupanças saqueadas, não acreditavam mais numa possível salvação. A salvação veio, entretanto, nos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique, com a introdução do Plano Real, de saudosa memória.
Digo de “saudosa memória”, porque os dados mais recentes apontam vários sinais de alerta para a recidiva de um processo inflacionário. Elevação reiterada dos preços, retorno aos déficits (especialmente nos Estados e municípios), larguezas pré-eleitorais, estímulos ao crédito e ao consumo ostentatório… Tudo isso, somado à alta do dólar e à queda do volume de investimentos, não demanda uma pós-graduação em macroeconomia para autorizar maus prognósticos para os próximos meses ou anos. A aproximação do pleito federal, com a presidente Dilma habilitando-se para a reeleição, já é suficiente motivo de preocupação, sabido que as reeleições sempre são difíceis e de resultados desastrosos para o equilíbrio fiscal.
As metas fixadas para elevação dos preços têm sido invariavelmente ultrapassadas. O ministro Guido Mantega aparece e reaparece na televisão com semblante desanimado, para reconhecer que a meta não pôde ser alcançada. Mas não desiste de fixar novas metas, que, pelo visto, nunca serão atingidas, enquanto não houver uma efetiva e severa redução dos gastos públicos. Será talvez necessário restabelecer, pelo voto, a rotatividade dos poderes, para que algo de novo aconteça na condução da política econômica.

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