quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Por que o tombo? - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 05/02

Os números ruins da indústria deixam várias lições. O tombo foi de 3,5% em dezembro. No ano, cresceu apenas 1,2%, o que não recupera a queda de 2,5% de 2012. Os dados mostram que a política industrial está errada. Não é com renúncias fiscais, subsídios e barreiras ao comércio que se aumenta a competitividade da indústria. A forte retração em dezembro torna o cenário mais difícil em 2014.

O governo apostou nisso nos últimos anos: reduções de IPI para o setor automobilístico e alguns outros, barreiras contra o produto importado, escolha de algumas empresas para receber o crédito subsidiado. Não deu certo. Nada substitui o aumento da competitividade geral da economia através de medidas como melhoria da logística e da simplificação de processos burocráticos.

O governo acreditou também que o câmbio elevaria a capacidade de o produto brasileiro competir. O câmbio ajuda, mas não é uma poção mágica.

Quando os dados da indústria foram saindo durante o ano, o Ministério da Fazenda disse que o aumento do investimento provava que estavam no caminho certo. Mas o setor de bens de capital foi o que mais caiu no fim do ano; e o que mais subiu no começo. Confira no gráfico.

A explicação: uma grande parte do aumento dos bens de capital era a renovação da frota de caminhões com a nova tecnologia menos poluidora. As vendas tinham parado durante a transição, em 2012 e, por isso, dispararam no começo do ano passado. Não era exatamente a indústria investindo em aumento de capacidade ou em eficiência.

O ano de 2013 deixou um peso para o PIB deste ano. Com o dado de ontem, o PIB do quarto trimestre está sendo revisto para baixo e deixará um impulso menor em termos de crescimento para 2014.

O resultado de dezembro foi pior do que o esperado, com retração em todas as categorias de usoeem22dos27 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE. Foi o pior dezembro desde 2008, na crise internacional.

A política industrial tem um alto custo para o Tesouro, pela redução de impostos e pelo aumento da dívida bruta para transferir dinheiro para os bancos públicos, que emprestam a juros subsidiados aos grupos favoritos. A indústria automobilística foi quem mais recebeu ajuda e foi quem mais cresceu no ano, 7,2%. Mas levou um tombo de 22,9% nos últimos três meses de 2013.O IPI reduzido provocou apenas antecipação de compras e não crescimento real.

A venda de caminhões começou o ano de 2013 acelerada — pelo motivo explicado acima — mas perdeu força e isso murchou o item “bens de capital".

O resultado de ontem surpreendeu. Os economistas esperavam queda menor. Agora, vários estão de volta aos seus cálculos e projeções porque vai impactar o PIB. A consultoria Rosenberg Associados, por exemplo, revisou de 2,5% para 2,3% sua estimativa para o PIB de 2013. E de 2,5% para 2,1% o de 2014. Na economia, os números têm reflexos nos que vêm a seguir.


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