GAZETA DO POVO - PR - 05/02
Quem não se lembra das fanfarronices petistas, em 2006, quando anunciaram que havíamos, finalmente, alcançado a tão sonhada autossuficiência em petróleo? Com as mãos sujas de óleo, o então presidente Lula da Silva chegou a bravatear que, em breve, o Brasil entraria para o cartel dos países produtores e exportadores de petróleo (Opep). Durante todo aquele ano, a Petrobras inundou a mídia com anúncios, alardeando não só sua enorme competência técnica (comparada a quem, mesmo?) como também a sonhada independência energética da nação. Propaganda enganosa, como ficaria claro mais adiante.
O tempo passou e a realidade cruel prevaleceu. O país continua dependente do exterior, não só em petróleo, mas principalmente em derivados. Há anos a produção brasileira vem andando de lado, enquanto o consumo não para de crescer. Segundo relatório da própria Petrobras, publicado recentemente, a produção de petróleo dos campos nacionais, no ano passado ficou, na média, em 1 milhão 931 mil barris/dia, 2,5% abaixo da produção de 2012. Só para se ter ideia, a conta petróleo fechou 2013 com um déficit superior a 20 bilhões de dólares.
Além da produção estagnada, dívidas elevadas e crescentes, conjugadas com um aperto inédito de liquidez, têm afastado cada vez mais os investidores. Relatório recente do Bank of América apontou a petrolífera brasileira como a empresa mais endividada do mundo. No mesmo diapasão, a Bloomberg calculou que sua dívida líquida já representa três vezes a capacidade de geração de caixa (EBITDA). Trata-se de um patamar de endividamento desastroso, especialmente porque a empresa precisará ainda captar muitos recursos no mercado para bancar os altíssimos investimentos que terá pela frente nos campos do pré-sal.
Com números assim, não fosse a Petrobras uma instituição cujo sócio majoritário é o governo, digo, os contribuintes, e o seu futuro seria, no mínimo, preocupante. Qualquer empresa privada, em situação semelhante, seria vista pelos investidores com imensa cautela, para não dizer com os dois pés atrás.
Mas, afinal, como é que a coisa chegou a esse ponto? É óbvio que estamos diante de uma série de fatores correlacionados e interligados, mas a fonte primária de todos os males da estatal está na ingerência política e no nacionalismo exacerbado abraçado pelos atuais ocupantes do poder. Exemplos recentes dessa mistura explosiva na gerência da companhia não faltam, a começar pelo congelamento do preço dos combustíveis, que afeta severamente o caixa, passando pela absurda imposição de metas cada vez mais ambiciosas, que encarecem e atrasam os investimentos, e terminando com a obrigatoriedade de participação de, no mínimo, 30% em todas as concessões do pré-sal, o que exigirá da petrolífera uma disponibilidade de capital que talvez ela não consiga obter, ao menos pelas vias normais de mercado.
Diz a boa técnica administrativa que decisões empresariais devem focar nos custos e benefícios que produzirão para seus acionistas. Quando quem manda são os políticos, entretanto, os custos se tornam irrelevantes, pois a grana é dos outros, enquanto os interesses quase sempre são conflitantes com os dos demais sócios. O resultado de tanta politicagem foi a transformação da Petrobras numa “empresa zumbi”, cuja melhor solução seria a privatização. Mas como isso hoje parece politicamente inviável, os contribuintes que se preparem.
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