FOLHA DE SP - 16/02
Existem intensas discussões sobre as relações dos países com o mercado. Alguns dizem que os governos não devem obedecer-lhe; outros, que têm de usá-lo; outros ainda, que devem respeitá-lo. Antes de tudo, é preciso entender esse mítico mercado.
Há inúmeros mercados. O municipal transaciona alimentos; o de arte, obras de arte; o de energia, megawatts. Mercado, portanto, é um conjunto de transações de determinado bem econômico.
O mítico mercado do debate econômico é o de títulos de renda fixa ou variável. No de renda fixa, todas as empresas ou governos que pretendem tomar dinheiro emprestado e preferem não recorrer a bancos vendem títulos diretamente a investidores dispostos a pôr dinheiro em troca de remuneração prefixada com prazo de pagamento. O de renda variável consiste em investir na empresa comprando suas ações.
Ouço muito que o governo não deveria aceitar o que dita o mercado. O que isso significa? Tomemos o exemplo de um cidadão que convoca corretores para vender um imóvel. Eles estimam seu preço em R$ 100, podendo chegar a R$ 150 com pintura e reformas hidráulica e elétrica.
O proprietário deve se recusar a ouvir o mercado? Ele pode declarar o imóvel em perfeitas condições e tentar vendê-lo pelo preço máximo, pois tem o direito de fazer o que quiser com ele. Mas a venda dependerá dos potenciais compradores, o chamado mercado imobiliário.
Fica claro na comparação que desafiar o mercado não resolve o problema, já que os compradores podem concluir que o imóvel não vale o preço pedido e podem escolher outras ofertas. O preço não é imposto pelo vendedor nem pelo comprador.
Há grande variedade de investidores no mercado internacional --pessoas físicas, empresas, governos, fundos. A variedade de fundos também é grande (de pensão, multimercados, renda fixa, variável) e com diferentes finalidades (imobiliário, "private equity" etc.). Eles atuam com recursos de pessoas ou empresas que colocam ali suas poupanças para gestores escolherem investimentos que trarão melhor retorno com menor risco.
Nesse contexto, ou nesse mercado, quanto mais sólida a situação de um país (fiscal, inflacionária, de crescimento, produtividade), maiores serão os investimentos e menores os juros pagos ao investidor por governos ou empresas em, por exemplo, títulos de renda fixa.
O importante é que todos os emissores de títulos, públicos ou privados, simplesmente melhorem sua saúde econômico-financeira para obter o menor custo. Um agravante é que a piora da qualidade de crédito do governo afeta o crédito das empresas do país.
Como dizia Nelson Rodrigues, nada mais brutal do que o fato.
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